ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | As Funções Narrativas do Som nos Flashbacks Audiovisuais. |
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Autor | Fabrizio Di Sarno |
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Resumo Expandido | O Flashback surgiu muito cedo na história do cinema sonoro, como podemos comprovar no filme Ruas da Cidade (City Streets, Rouben Mamoulian, 1931). Desde então podemos observar uma série de diferentes características audiovisuais nas cenas que envolvem este tipo de quebra de linearidade temporal tanto no cinema quanto na televisão. Algumas destas características se consagraram ao longo de grandes períodos tornando-se convenções altamente reconhecíveis por qualquer tipo de público.
Podemos dividir os Flashbacks em diegéticos e extra-diegéticos, sendo que o primeiro tipo normalmente mostra ao espectador o conteúdo da memória de algum personagem. Neste caso, é necessário que se diferencie de alguma forma o mundo presente no contexto narrativo do mundo onírico preservado na mente daquele que está recordando algum acontecimento. O som pode possuir um papel crucial neste tipo de diferenciação. Em muitos casos a função do som se inicia na transição do tempo presente para o passado. Neste caso, alguns elementos sonoros tornaram-se clichés, com destaque para o Glissando na harpa. Outro elemento sonoro bastante comum é a repetição da última palavra ou frase tornando-se cada vez menos intensa (fade out) e mais reverberada até que a transição para o passado se complete. No caso da imagem, convenções comuns envolvem o efeito Fade in to White, no qual a imagem vai se tornando gradualmente mais branca, ou o gradual fechamento da imagem na testa do personagem, provocando no espetador a sensação de imersão nos seus pensamentos, como ocorre no famoso Flashback final de Era Uma Vez no Oeste (Once Upon a Time in the West, Sergio Leone, 1968). Como enfatizado em diversas ocasiões pela trilha pontuada, o Glissando ascendente pode remeter o espectador a um sentimento de elevação, tornando-se importante na medida em que este deve elevar o foco da sua atenção do rosto para a testa do personagem, ou até mesmo para o mundo etéreo das ideias. No caso da repetição gradualmente reverberada, o efeito também indica uma transição de localização, já que este tipo de reverberação “aprofunda” o som da voz da boca para a mente (que se localiza atrás do rosto do personagem). Existe um fenômeno psicoacústico baseado em experiências prévias em que certos sons parecem estar ainda mais longe atrás das caixas de som do que o limite normalmente imaginado. Por exemplo, se você posiciona o som de um trovão distante entre as caixas pode parecer que o som está a uma distância de milhas atrás das caixas. O som de um Reverb em um grande anfiteatro ou um distante eco no Grand Canyon pode também parecer muito atrás das caixas de som (GIBSON, 2005, p.12, tradução livre). Segundo David Gibson, a gravação de um som distante (realizada através de posicionamento de microfones), a adição de reverberação ou as diferenças de intensidade sonora são os elementos que podem passar a impressão de que o som vem de um local bem distante atrás das caixas de som, mesmo quando sabemos que o som, na realidade, está vindo dos autofalantes que se localizam na frente das mesmas. Este efeito é estudado em mixagem, de modo que quando desejamos, por exemplo, dar a impressão de que um coral está cantando atrás de um solista acrescentamos reverberação nos canais do coral enquanto mantemos a voz do solista seca, ou seja, sem nenhuma reverberação. Ao mesmo tempo, aumentamos a intensidade da voz do solista abaixando a do coral, o que auxilia este efeito, gerando a impressão de que o solista está na frente do coral. Este mesmo efeito ocorre nas transições para os Flachbacks, quando a última sílaba é repetida, sendo o som mais reverberado e menos intenso a cada repetição, gerando a impressão de que se afasta mais e mais para trás da tela em direção ao pensamento do personagem. Outros elementos sonoros estudaados por esta pesquisa durante as cenas de Flashbacks incluem sinos, som de vento, tremolos de orquestra, pratos, barulhos de Flashs fotográficos, dicas dos personagens (eu me lembro que...) etc. |
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Bibliografia | ALTMAN, Rick (org.). Sound theory – Sound practice. New York: Routledge, 1992.
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