ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | I-docs: fruição espectatorial e experiência do usuário |
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Autor | Gianna Gobbo Larocca |
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Resumo Expandido | Partindo da leitura de teóricos ligados ao estudo da experiência do usuário em mídias digitais, este estudo trata da introdução da interface interativa no discurso de narrativas de não-ficção e do papel conferido à tecnologia e ao espectador em muitas dessas abordagens, problematizando-as.
Através da interface interativa do i-doc, o espectador é posicionado dentro do artefato pela demanda de sua ação física, para além do ato de interpretação, a fim de criar ciclos de feedback com o sistema digital. Usualmente os i-docs conferem ao espectador-usuário um papel exploratório e editorial ao permitir que navegue entre diferentes partes do conteúdo e/ou um papel colaborativo ao convidá-lo a enviar conteúdo para compor a obra. Consoante com o conceito amplo de documentário proposto por John Grierson - “tratamento criativo da realidade” -, Aston e Gaudenzi (2012) postulam, no primeiro I-Docs Symposium, um conceito igualmente abrangente para a versão interativa. I-doc, segundo as autoras, refere-se a “qualquer projeto que começa com uma intenção de documentar o real e usa tecnologia interativa digital para tal.” (p.125). A partir desse conceito bastante inclusivo, Gaudenzi propõe distinções através de uma taxonomia baseada nos diferentes tipos de lógicas interativas utilizadas pelos i-docs: conversacional, hipertextual, experiencial e participativo. O i-doc conversacional (ou docu-game) utiliza a tecnologia digital para simular mundos tridimensionais nos quais o usuário pode navegar. O modo hipertextual permite ao usuário navegar via uma interface de links em uma base de dados fechada. O modo participativo, ligada ao advento da Web 2.0, conta com a colaboração do usuário para criar uma base de dados aberta e em desenvolvimento, tornando possível uma relação de mão-dupla entre autores digitais e usuários. E, por fim, o modelo experencial utiliza mídia móvel e GPS levando o conteúdo digital para o espaço físico e borrando as fronteiras do real e virtual. Conforme Gaudenzi, essa taxonomia é relevante uma vez que diferentes dinâmicas de interação apontam para diferentes construções de realidade. Assim os documentários experienciais podem adicionar camadas à percepção do real, os participativos constrõem uma realidade na qual o usuário tem o poder de intervir, os hipertextuais fragmetam o real em vários caminhos dentro de um mundo pré-configurado e os conversacionais sugerem alternativas de acesso ao real. O i-doc põe em curso um novo processo editorial ao acrescentar uma camada de navegação e participação da audiência. Segundo Manovicth (2001), o gênero exibe e permite manipular a base de dados que sempre esteve latente no documentário tradicional. Essas mudanças indicam, no polo do realizador, uma escala deslizante de autoria e curadoria do texto documental; no polo do espectador, a oportunidade de, para além de interpretar, co-criar, remixar, conectar, compartilhar. O’Flinn (2012) defende que o acréscimo da interatividade nos i-docs promove uma quebra na imersão do filme tradicional semelhante à disruptura brechtiana no teatro: a quebra da “quarta parede” desafia a postura passiva da platéia. Essa postura bastante recorrente por parte dos teóricos da experiência do usuário, parece partir de uma abordagem do espectador bastante monolítica e que confere demasiado valor ao aspecto tecnológico no agenciamento do engajamento do usuário. Gaudenzi (2009), por sua vez, não confere tal proeminência à utilização da interface interativa, mas defende que o i-doc ativa a construção de conhecimento enativa ao exigir a ação física de uma audiência corporificada, diferenciando-se de uma fruição espectatorial clássica do cinema. |
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Bibliografia | ASTON, Judith; GAUDENZI, Sandra.”Interactive documentary: setting the field”. In: Studies in Documentary Film, 2012, pp. 125-139
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