ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Em busca do tesouro: rock e juventude no cinema musical brasileiro. |
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Autor | Guilherme Maia de Jesus |
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Coautor | Sandra Straccialano Coelho |
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Resumo Expandido | Nesta comunicação, a natureza dos filmes musicais ligados à Jovem Guarda e ao BRock é observada seja sob uma perspectiva imanentista, que visa a compreender as estratégias de produção de efeitos das obras e o modo como os números musicais são tecidos na malha narrativa, seja sob uma perspectiva contextual, que, utilizando uma matriz conceitual bourdieusiana, examina o lugar desses filmes nos campos do cinema e da canção popular no Brasil. As análises dialogam também com o estudo de Jeff Smith acerca da interação entre as indústrias fonográfica e cinematográfica nos EUA; o artigo O juvenil como gênero cinematográfico, de Zuleika Bueno; a pesquisa de Eduardo Vicente sobre a segmentação do mercado fonográfico brasileiro entre 1960-90; os estudos de Altman sobre o cinema musical e a tese de Márcia Carvalho sobre a canção popular no cinema brasileiro.
No horizonte empírico, a partir do mapeamento de alguns dos primeiros sinais do rock no cinema brasileiro, em filmes como De vento em popa (1957), Minha sogra é da polícia (1958) e Vai que é mole (1960), a análise é dirigida para os aqui chamados filmes da Jovem Guarda, com um recorte que parte do momento em que um signo do fenômeno é anunciado no título de um filme – Na onda do iê-iê-iê, dirigido por Aurélio Teixeira em 1967 – para acompanhar filmes protagonizados por cantores e grupos com imagem associada à marca Jovem Guarda. Jerry Adriani inaugura esta tendência e aparece como protagonista de três filmes: Essa gatinha é minha (1966), Jerry – a grande parada (1967) e Em busca do tesouro (1967). Ainda em 1967, o conjunto Os Incríveis aparece no papel-título de Os incríveis neste mundo louco. Roberto Carlos, o epicentro do fenômeno, lança dois filmes em 1968: Roberto Carlos em ritmo de aventura e Roberto Carlos e o diamante cor de rosa, este último com Erasmo Carlos como coadjuvante. Neste mesmo ano, a ala feminina da onda do iê-iê-iê chega às telas em filmes como Juventude e Ternura (1968), com Wanderléa, e Jovens pra Frente (1968), estrelado por Rosemary. O breve ciclo é concluído com Pobre Príncipe Encantado (1969), com Wanderley Cardoso no papel principal. O fenômeno observado se verá em certa medida reatualizado nos anos de 1980, com o investimento na produção de filmes em que o rock mais uma vez protagonizava películas destinadas ao público jovem. A aposta em roteiros simples e com toques de comédia, cuja ação constantemente se via interrompida pela apresentação de números musicais protagonizados por nomes que ocupavam as paradas de sucesso das FMs na época, tais como Barão Vermelho, RPM, Metrô, Titãs, Lobão e Léo Jaime (dentre outros), gerou uma fórmula ao mesmo tempo lucrativa e efêmera. O protótipo desta fórmula já pode ser identificado em Menino do rio (1981) e Garota dourada (1983), mas pode-se dizer que é com Bete balanço (1984), que ela se consolida. A película alcançou grande sucesso de bilheteria e atenção da crítica, tendo sido considerada um produto “inovador” no cinema nacional na época de seu lançamento. Contudo, se observa que a tentativa de reprodução do mesmo modelo em outros títulos que se seguiram, tais como Tropclip (1985), Rock Estrela (1985), Areias escaldantes (1985) e Rádio pirata (1987), parece ter levado ao esgotamento de uma fórmula que acabou por não conseguir reproduzir seu sucesso inicial. Diferente dos filmes da Jovem Guarda, observa-se ainda que esse conjunto de produções dos anos de 1980 poucas vezes apostou no ídolo do rock como o “mocinho(a)” da película – a presença das bandas e cantores quase sempre se dá no espaço do palco em performances. Da consideração conjunta desses dois momentos em que o cinema nacional visou à criação de uma fórmula de sucesso destinada ao público jovem, utilizando como denominador comum o rock nacional, espera-se contribuir para as discussões acerca da(s) natureza(s) do cinema musical brasileiro e do papel desses filmes na dura luta por sobrevivência do cinema nacional. |
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Bibliografia | ALTMAN, R. American film musical. London: Indiana University Press, 1989.
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