ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | LA JAULA DE ORO e PELO MALO: adolescências diaspóricas |
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Autor | RAFAEL TASSI TEIXEIRA |
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Resumo Expandido | O cinema migratório contemporâneo, estabelecido em uma proposta de pensar os processos relativos aos sujeitos que deixam, multiplicadas vezes, os seus lugares de origem, encontra diversas possibilidades de mostrar as variadas situações de estresse psicossocial e potencialidades aculturativas que agem sobre coletivos e individualidades em situação de trânsito. Tensionadas, sobretudo, na busca por autonomia representativa e lar identificatório, as vulnerabilidades contextuais dos migrantes contemporâneos e os processos de mediação cultural constituem esferas complexas que agem sobre as reações adaptativas, acionando diacríticas de significado e incidindo na base da subjetividade. Ainda mais profundamente, atuam de modo determinante quando o processo de gestação identificatória está em curso: contaminam e modalizam as instáveis topologias em que a adolescência e seus regimes de interiorização coincidem. O trabalho busca percorrer essas linhas de discussão a partir da análise de dois filmes latino-americanos contemporâneos: La Jaula de Oro (Diego Quemada-Díez; México, 2013) e Pelo Malo (Mariana Rondón; Venezuela, 2013), que sediam dialogicamente o debate sobre os múltiplos efeitos da transposição de fronteiras e seu impacto nos sujeitos adolescentes em situação de mobilidade forçada. La Jaula de Oro apresenta imagens da experiência de três jovens migrantes guatemaltecos e um jovem indígena tzotzil em viagem aos Estados Unidos, em que a noção de identidade adolescente é central na dinamicidade de uma dupla constatação: a partida não apenas é a confirmação de que não há alternativa a não ser migrar, mas também o ultimato apriorístico que conforma uma vida projetada para ser errância e périplo, rumo a algum lugar onírico como movimento próprio de uma subjetividade que se estabelece a partir da espera, do pouso, da demora e das infinitas e sucessivas paradas que consistem na própria ambivalência do anestesiamento da identidade com vistas a conseguir estar o mais próximo de si mesmo. Nesse aspecto, criticamente o filme configura simultaneamente o processo amargo e profundamente afetuoso contemplado pelos olhos dessas figuras adolescentes, signos da percepção de um paraíso ensinado e absorvido e que nunca efetivamente tem lugar, um sítio alegoricamente sempre mais e mais mudo, imutável e silencioso. Em Pelo Malo, reconhece-se um território em que se deposita a incapacidade em produzir referências emancipatórias suficientes para dar sequência ao movimento de continuidade da situação de crescimento de vida. A dimensão da sensibilidade, centralizada na figura do protagonista menino, obsessessivamente às voltas coma ideia de modificar o próprio cabelo, evidencia o processo de falência de uma sociedade transformaticamente impedida, com a gestação provavelmente mais frágil da identidade na exacerbada preocupação com os marcadores exteriores na construção do pertencimento. Elemento diacrítico central em que se estabiliza a possibilidade de conformação da interação sensível a partir da porta de entrada de uma nação dicotomizada entre sujeitos de fluxos e sujeitos de territórios, o cabelo se torna a exterioridade imprescindível para o desenvolvimento da subjetividade adolescente que se gesta e, ao mesmo tempo, porta de saída de um universo de criptografias do impedimento que caracterizam um local fortemente delimitado por territórios físicos e pessoais de contenção. Ensejado na expectativa da transformação visual como leitura do engajamento, o filme de Mariana Rondón revela o exercício de deterioração de uma sociedade quando aceita ser imputada pelo efeito volitivo com que coíbe os sentimentos ideativos de realização pré-adolescente. Não há como reverter a função social do meio, a partir de instrumentos sociais (linguagem, sistemas simbólicos), se é o próprio meio que, base irrestrita do acesso à afetividade, determina o trabalho cognitivo diferenciado de indexar as confiabilidades à amputação do sensível. |
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Bibliografia | APPADURAI, A. “Soberania sem território: notas para uma geografia pós-nacional”. Novos estudos Cebrap, 49, 33-46, 1997.
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