ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Alargamentos sócio históricos do filme andino Kukuli (1961) |
|
Autor | Carlos Francisco Pérez Reyna |
|
Resumo Expandido | Faz cinquenta e quatro anos da primeira exibição o primeiro filme falado no idioma Quéchua na história do cinema peruano. Kukuli (1961) foi realizado pelos cineastas Luis Figueroa, Eulogio Nishiyama e César Villanueva e narra os motivos bucólicos da versão do mito andino do Oso Raptor (Urso Raptador/Raptor) coletado em 1942 pelo antropólogo peruano Efraín Morote Best (1988). Embora a versão do mito varie nas regiões centrais e do sul dos Andes peruanos, sua proposição central não foi alterada. O filme é importante por várias razões: em princípio, foi o primeiro filme falado no idioma Quéchua na história do cinema peruano. Segundo, é um filme híbrido, parte ficção parte documentário (NICHOLS, 1997; METZ, 1977). A história do cinema é abundante dessas experimentações do fazer cinematográfico, fusionado gêneros e expandindo fronteiras. Finalmente, anos prévios à produção do filme, entre os anos 1950 e 1960, surge nos Andes do sul uma abertura de mentalidades nas quais se destacam o surgimento de uma nova estética indigenista, a construção de novas salas de exibição e a fundação do “cine club Cusco”.
Para o Peru contemporâneo, o cinema andino sempre foi um terreno onde sempre se debateram amplas discussões, sobretudo quando é colocada em causa sua legitimidade ideológica e sua viabilidade comercial (PROTZEL, 2009). No fulgor de Kukuli está presente o tema central que nos revela a mistura de culturas e a relação de poder que se estabelece entre o mestiço e o camponês. Certamente, teremos diferentes abordagens para entender e reinterpretar Kukuli, segundo o tempo e gerações, a partir da história oral e suas interfaces com o saber antropológico ou suas considerações fílmicas como obra artística autônoma possível de produzir diferentes análises (AUMOUT, 2004). No entanto, como todo filme, não discute questões históricas que permita ter conhecimento do grupo social dos detentores dos meios de produção num determinado contexto histórico. Sabemos que o estilo difere segundo as épocas provocando diferentes representações do mundo. Então, se o estilo tem uma história, é necessário contextualizar o pano de fundo em que o filme foi realizado, pois toda obra artística é o reflexo de seus tempos (NOVOA, 2012). Alinhamo-nos com Chartier (1990) quando resumidamente nos diz que o cinema é um produto simbólico, portanto uma forma de apropriação do mundo por um grupo social em contradição com outros. Essa apropriação torna-se interpretação da realidade social. A conexão interdisciplinar com a sociologia e a história permitirão a esta proposta tentar alargar algumas compreensões sócio históricas do processo criativo do filme entre os anos 1950-1960. |
|
Bibliografia | AUMONT, Jacques e MARIE, Michel. A Análise do Filme. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2009.
|