ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Diários de motocicleta: a transposição da literatura para o cinema |
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Autor | Sancler Ebert |
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Resumo Expandido | Pretendemos analisar como foi o processo de transposição midiática dos livros De Moto pela América do Sul (escrito por Che Guevara) e Com Che Guevara pela América do Sul (escrito por Alberto Granado), ambos diários da viagem realizada em 1952, para o filme Diários de motocicleta (2004), dirigido por Walter Salles. Para isso usamos os conceitos de fenômenos intermidiáticos propostos por Irina Rajewsky (2012) como forma de análise da intermidialidade, conceito criado há décadas, mas com estudos ainda incipientes na área do cinema. A intermidialidade é aqui entendida como as relações entre as mídias (literatura, cinema, pintura, fotografia, música, entre outras), às interações e interferências de cunho midiático.
Rajewsky divide os fenômenos em três: transposição midiática, combinação de mídias e referências intermidiáticas. O primeiro, que é foco dessa proposta, diz respeito a transformação de uma mídia definida em outra, como é o caso das adaptações literárias para o cinema, por exemplo. Diferentemente dos outros fenômenos que são intracomposicionais, a transposição é extracomposicional. A combinação de mídias e referências intermidiáticas contam com a participação direta ou indireta em mais de uma mídia, não só no decorrer do processo de formação, mas na estrutura da mídia. Como por exemplo, quando a música é usada no cinema, há uma interação entre as duas mídias que resulta numa transformação do material fílmico, assim como, quando uma fotografia referencia uma pintura. Já a transposição, por ser extracomposicional, não vai afetar, necessariamente, o significado ou a aparência externa da mídia, uma vez que, um filme ao adaptar um livro pode fazê-lo sem alterar as suas características cinematográficas. Com roteiro de José Rivera, Diários de motocicleta acompanha Che (Gael Garcia Bernal) e Granado (Rodrigo de la Serna) na viagem que ambos realizaram pela América do Sul, na qual o futuro líder revolucionário teria transformado seu olhar em relação ao continente ao se aproximar das mazelas do povo latino-americano. Interessa-nos aqui é pensar como se deu o processo de transformação de uma mídia em outra e para isso, iremos contrapor o material base (os dois livros) com o filme, assim como utilizar os instrumentos documentais (entrevistas com o diretor e equipe, reportagens sobre o filme, material de divulgação). A partir dessa metodologia, buscaremos refletir sobre esse processo, atentando para questões como: a) Como as diferentes mídias contam a mesma história, quais estratégias são repetidas e quais são inovadoras em relação ao material base; b) Quanto do material dos livros foi transposto para o cinema, que trechos foram adaptados, quais foram suprimidos, foram criados novos acontecimentos/personagens. Como o filme se utiliza dos dois diários para construção de seu roteiro, quanto de um ou outro foi agregado a versão final; c) Como o material base aparece ao longo do filme, uma vez que, vemos o personagem de Che escrevendo o diário durante a obra cinematográfica; d) Quais características da literatura são transpostas para a linguagem cinematográfica, como por exemplo, os usos de caracteres com informações para informar datas, locais e quilômetros; e) De que forma o fato do filme ser a transposição de livros para o cinema influencia a forma como ele pode ser entendido, há um realismo maior envolvido por causa disso. |
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Bibliografia | CLÜVER, Claus. “Inter textus / Inter artes / Inter media.” Aletria 14 (2006): 9-39.
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