ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Cinema-militante, a experiência do #OcupeEstelita |
|
Autor | Cristina Teixeira Vieira de Melo |
|
Resumo Expandido | Em Recife, desde 2012, o Cais José Estelita é alvo de disputa. O terreno foi arrematado em leilão pelas construtoras Moura Dubeux, Queiroz Galvão, Ara Empreendimentos e GL Empreendimentos. Esse consórcio pretende construir no local um complexo imobiliário de alto padrão nomeado de “Novo Recife”. Parte da sociedade civil organizou um movimento de resistência ao projeto que ficou conhecido como #OcupeEstelita. Seus integrantes alegam que o Novo Recife agride a paisagem do centro histórico, forma uma barreira de vento e acentua a segregação social. Ainda acusam a mídia local de ser conivente com a iniciativa pela forte relação de dependência que a imprensa mantém com os anunciantes privados e estatais.
Nesse contexto, funcionando como uma espécie de mídia de contrainformação, estão os filmes produzidos pela Brigada Audiovisual Ocupe Estelita. Até o momento, a Brigada produziu um total de 11 vídeos. Embora guardem diferenças significativas entre si (tempo de duração, função comunicacional, características estéticas, etc.), todos são classificados pela Brigada como “vídeos de urgência” ou “vídeos de combate”. Tomando por base o que Bernardet (1991) fala a respeito do cinema militante (a saber: compromisso com as lutas sociais, produção colaborativa e exibição em circuitos alternativos), defendemos que os filmes da Brigada se encaixam nessa categoria. Numa época em que o estatuto de representatividade da imagem é questionado e a ideia da reflexividade domina o campo do documentário, os discursos de verdade e a crença na arte como meio de transformação social de um cinema militante tendem a ser questionados. Por esses motivos, muitas vezes, a produção audiovisual desse tipo é vista como menor, doutrinária, didática e totalizante. No entanto, para aqueles que integram a Brigada, em tempos de capitalismo avançado, uma “ética da urgência” se impõe a fim de fazer circular discursos outros que se contraponham ao neoliberalismo. Nesse contexto, antes de priorizar um padrão estético pré-estabelecido, os filmes da Brigada são resultado de uma posição política e ideológica. É isso que permite reunir filmes de linguagens tão distintas sob o mesmo rótulo: “cinema-militante”. No presente trabalho, buscamos analisar, individualmente, as características estéticas e discursivas de cada filme realizado pela Brigada, bem como mostrar como todos eles operam dentro da categoria maior “cinema-militante”. Tentamos indicar de que forma a estética dos vídeos sofre influência da forma como são produzidos que, por sua vez, é condicionada pelo fluxo dos acontecimentos. Por exemplo, se algo é notícia (uma passeata, uma manifestação, uma ocupação, etc.), um teor jornalístico se impõe. É preciso estar diante dos fatos para registrá-los. Por outro lado, a forma como essas imagens aparecem nos filmes confere-lhes um distanciamento do jornalismo, quer seja pela recusa de se identificar os sujeitos que falam, pelo uso comedido da entrevista ou pela preferência da câmera em recuo para registrar os fatos. Há ainda os filmes que se descolam de um acontecimento mais imediato e enveredam por um caminho mais ensaístico e/ou memorialístico. Em contrapartida aos filmes de sentido mais aberto, há os panfletários e de caráter mais dogmático. Para finalizar, pode-se dizer que, ponto de vista estético, a diversidade do que já foi produzido até o momento, ora se contrapõe aquilo que se costuma ver na mídia hegemônica, ora reproduz alguns recursos conhecidos dessa mídia. Do ponto de vista político, os vídeos apontam para um esgotamento do neoliberalismo reinante e sugerem uma nova configuração de cidadania. De uma forma ou de outra, o que os cineastas-militantes da Brigada têm feito é usar uma câmera-arma, uma tática de guerrilha e até mesmo seu corpo-vida em prol de uma bandeira política, de uma ideologia. |
|
Bibliografia | BERNARDET, Jean-Claude. O que é o cinema. 11ªed. São Paulo: Brasiliense, 1991. |