ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Música e performance no documentário musical brasileiro contemporâneo |
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Autor | Ludmila Moreira Macedo de Carvalho |
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Resumo Expandido | Um dos subgêneros mais populares do cinema documental, o documentário musical encontrou no Brasil terreno fértil para um rápido e constante crescimento, não apenas pela reconhecida qualidade e variedade de oferta de músicos a serem retratados, mas também, entre outras razões, pela própria ascensão do documentário em suas múltiplas possibilidades no cinema brasileiro.
De 2000 a 2014, estrearam nos cinemas brasileiros 77 documentários musicais, contra apenas 18 títulos lançados entre as décadas de 1970 e 1990. Apenas em 2013 foram dez novos filmes, muitos dos quais estão entre os mais vistos pelo público nos cinemas (a exemplo de A Luz do Tom, documentário de Nelson Pereira dos Santos sobre Tom Jobim, e A Batalha do Passinho, registro de Emílio Domingos do fenômeno da dança do passinho nos bailes funk cariocas). Embora a grande maioria dos documentários musicais lançados no Brasil tenha uma tendência marcadamente biográfica, ou seja, preocupe-se em fazer um retrato da trajetória de vida de um determinado artista ou banda (Tom Jobim, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Mario Lago, Jards Macalé, Tom Zé, Wilson Simonal, entre muitos outros), focando, inclusive, nos momentos mais íntimos, fora dos palcos, há também os que procuram recuperar historicamente movimentos musicais importantes (como o crescimento do rock em Brasília a partir da década de 1980, a guitarra baiana nos carnavais de Salvador, as cantoras da época de ouro do rádio ou a Tropicália), e, ainda, os que procuram situar fenômenos musicais num contexto social, político ou cultural mais amplo (como o rap e o funk nas favelas cariocas, a cena LGBT nos clubes e boates underground, ou ainda as canções de boiadeiro nas zonas rurais do país). Apesar de os documentários musicais terem sido sempre populares, desde a criação do rockumentary nos anos 1960 e os registros da ascensão de inúmeros ídolos do pop e do rock, tais filmes são ainda pouco estudados no campo teórico. Na maioria das vezes, costumam ser considerados como um mero veículo de promoção de um artista ou banda sem maiores virtudes cinemáticas, sobretudo por não querer convencer ou educar o espectador a respeito de um tema relevante socialmente. Mesmo no campo musical tais filmes costumam sofrer preconceito - os filmes de shows e festivais musicais, por exemplo, são taxados de entediantes e pouco relevantes, material destinado apenas aos fãs mais ardorosos dos artistas retratados. No entanto, tais filmes são capazes de oferecer, entre outras coisas, uma das interações mais ricas entre as artes do cinema e da música. Ao colocar imagens de músicos reais em cena, o documentário musical automaticamente cria uma relação entre o som e o corpo que o produz naquele momento da captação da imagem. Segundo Thomas F. Cohen, no livro "Playing to the Camera" (2012, p.11), essa relação direta com a fonte produtora (uma pessoa de carne e osso, com todas as suas características físicas) "can give valuable insight into the physical dynamics of musical performance", muitas vezes mudando a própria percepção que o espectador tem daquela música. Neste trabalho, estaremos interessados em observar como o movimento físico da pessoa em sua performance está diretamente relacionado ao som que ela produz - ou, mais especificamente, qual o papel do cinema nesta relação. Como são registrados os momentos de performance? De que maneira os movimentos e expressões do artista são rendidos visualmente? O quanto de interferência do realizador há nestes momentos? O quanto de música há efetivamente nestes filmes? Através da análise de alguns documentários musicais brasileiros contemporâneos sobre músicos instrumentistas - Nelson Freire (2003), filme de João Moreira Salles; Prova de Artista (2011), de José Joffily; e Paulo Moura - Alma Brasileira (2013), de Eduardo Escorel - procuraremos verificar, justamente, como estes filmes representam cinematograficamente as habilidades artísticas e expressivas dos músicos em questão. |
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Bibliografia | AUSLANDER, Philip. Livenes: Performance in a mediatized culture. NY: Routledge, 2008.
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