ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Desafios impostos pela audiodescrição: o deficiente visual e o cinema |
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Autor | Sandra Lumi Sato |
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Resumo Expandido | Já é lugar comum dizer que vivemos diante do predomínio cognitivo do olhar, especialmente em uma cultura onde as múltiplas telas se tornam cada vez mais hegemônicas. Paternostro (1999) indica que a imagem vale em si mais do que frases descritivas, sendo que é irrelevante descrever o que o espectador já está vendo. O cinema, que de saída requer nosso olhar, incita a questionarmos se quem não é capaz de perceber visualmente as imagens está fadado à exclusão ao acesso a este tipo de informação (MAYER, 2012).
A audiodescrição surge assim como uma ferramenta que proporciona ao público de deficientes visuais outra maneira de lidar com o discurso visual e de se posicionar diante dele. “No cinema, teatro e televisão ela tem sido empregada como recurso inclusivo com recorrência e, ultimamente, com incentivo ou obrigatoriedade governamental” (MICHELON, 2005, p.193). A Associação Brasileira de Normas Técnicas (NBR 15290) entende o termo como "uma locução, em língua portuguesa, sobreposta ao som original do programa, destinada a descrever imagens, sons, textos e demais informações que não poderiam ser percebidos ou compreendidos por pessoas com deficiência visual e intelectual" (2005). Já Motta (2008) define como "a arte de transformar aquilo que é visto no que é ouvido", e Mayer (2012) como uma "modalidade de tradução intersemiótica ou, como também podemos afirmar, um recurso pedagógico de tecnologia assistiva orientado para as necessidades de pessoas com deficiência visual, seja ela parcial ou integral" (p.23), definição aqui apreendida. A imagem construída por meio da audiodescrição se dá pela adição de um estímulo sonoro, sendo que, além da descrição verbal do que pode ser visto, outros elementos são utilizados nos processos de articulação de sentido. Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo refletir sobre as manipulações do som original dos filmes enquanto possibilidades de tradução das imagens. Para tanto, elegemos para fins heurísticos a analise de cenas dos filmes audiodescritos “A garota das Telas” (1988), de Cao Hamburguer e “Uma História de Futebol” (1998), de Paulo Machline. O som possui uma natureza movediça, sendo que a simultaneidade da recepção do som ocorre em relação ao fluxo da consciência de quem ouve (WINCKEL, 1967). Sob uma perspectiva sígnica indexativa, cada forma sonora é um signo, na medida em que é uma forma de expressão. Ao ser reconhecida pelo receptor, desencadeia em sua mente um estímulo específico ao qual está associada, por ter um referente concreto na realidade referencial. Com a possibilidade de trabalhar com o som isolado, os tradutores audiovisuais acabam por estabelecer novas associações virtuais entre sons e imagens que não existem no universo referencial. Esse modo de trabalhar vinculado ao tratamento tecnológico abriu um universo expressivo revolucionário na comunicação audiovisual: o som, como fenômeno físico, passa a não ter, necessariamente, a ver com as formas sígnicas que podem ser construídas com ele. Em uma narração audiovisual, o conteúdo semântico do discurso é também um instrumento expressivo fundamental: é na interface entre a imagem visual com o som que a cena adquire seu valor dramático, construindo assim a “visibilidade” do enredo. Mayer (2012) estabelece cinco formas em que a audiodescrição pode atuar/interferir no som original do filme: a performance do narrador da audiodescrição; dublagem; trilha musical; efeito sonoro; e o silencio. A analise dessas categorias nas obras audiovisuais serão a base metodológica para a pesquisa empírica. Muitos são os desafios para as pesquisas sobre o campo da audiodescrição. Sendo uma possibilidade da pessoa com deficiência visual se relacionar sob novas formas com o universo cinematográfico, é preciso refletir se ela possibilita o acesso e novas interações, ou se acaba por produzir uma forma outra de dominação de imagem sobre as pessoas com deficiência visual. |
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Bibliografia | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15290: acessibilidade em comunicação na televisão. Rio de Janeiro, 2005. 10p. Disponível em: http://www.mpdft.gov.br/sicorde/normas/NBR15290.pdf.
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