ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A memória da ditadura nos países ABC: anistia, reparação e impunidade |
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Autor | Denize Correa Araujo |
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Resumo Expandido | As revisitas às ditaduras tem sido freqüentes. Meu texto, resultante de minha pesquisa de Pós-Doutorado, tem por objetivo analisar a memória das ditaduras de três países, que denomino de ABC – Argentina, Brasil e Chile, através de filmes documentários que remetem à factualidade histórica e aos processos de anistia, aqui adotados em suas duas principais vertentes: a anistia no sentido de reparação, aplicada aos que sofreram danos físicos e morais durante os períodos de autoritarismo e a anistia no sentido de impunidade, ou seja, de deixar sem punição os responsáveis pelas atrocidades das ditaduras. Minha hipótese é que o Brasil, em comparação à Argentina e ao Chile, é o país que menos se esforça para alimentar uma memória ativa da ditadura e para criar leis que defendam os direitos humanos e reparem os danos cometidos em nome de uma forma mais democrática de regime.
O referencial teórico desta parte de minha pesquisa é composto por conceitos sobre memória, com ênfase em memória subjetiva, de Beatriz Sarlo, que argumenta que todos os testemunhos são permeados por emoções que escapam à objetividade, tornando-se assim, apesar de extremamente relevantes, documentos incompletos para serem analisados como relatos fiéis aos fatos ocorridos. Em minha pesquisa, adotei o vocábulo “factualidade” para não usar “realidade” e nem “verdade”, que acredito serem conceitos ambivalentes que geram controvérsia em suas pretensões quanto a serem fidedignos, mesmo porque cada pessoa tem “suas” verdades e “suas” realidades, cada vez mais subjetivas, especialmente em filmes documentários onde a câmera se reveste de autoridade e intimida alguns, estimulando outros a performances forçadas. Outro referencial teórico é a idéia de memória e história de Jacques Le Goff, que também questiona a objetividade do historiador. Além disso, o autor questiona se a história é uma ciência do passado ou só há história contemporânea. É neste contexto que se insere a memória que, ao mesmo tempo em que rememora o passado, o faz em termos de presente, com seu enfoque já pleno de outras vivências, que não permitem uma volta a ser o que era, seja porque já adquiriu pontos de vista distanciados podendo relativizar os fatos em outra dimensão, seja porque seu repertório de imagens e lembranças já está alterado por outros elementos agregados à sua trajetória. O conceito de Hannah Arendt sobre a banalidade do mal é outro referencial teórico que permite uma possível resposta à hipótese formulada: para a autora, o mal pode estar tão enraizado que é visto como banal e não como algo que deveria ser revisado e repensado. A anistia, elemento catalisador deste texto, é um exemplo deste mal que perdura e que faz com que as leis punitivas sejam revogadas, que criações de comissões da verdade sejam improdutivas e não erradiquem o problema, e que o esquecimento seja mais potente do que a memória das ditaduras. O corpus desta pesquisa inclui três filmes documentários que selecionei para representarem seus países pelos conteúdos incisivos que não permitem que a história dos regimes autoritários seja olvidada. Da Argentina, o filme 500: os bebês roubados pela ditadura argentina tem incentivado a luta constante das mães e agora das avós da Praça de Maio. Do Brasil, faço menção ao filme da diretora portuguesa Maria de Medeiros, Repare Bem, que se refere à anistia aos exilados, e é um testemunho emocional da esposa de Eduardo Leite (“Bacuri”) assassinado aos 25 anos de idade. O filme Eu me lembro, de Luiz Fernando Lobo, contudo, representa os testemunhos que reivindicam uma ação direta contra a impunidade. Do Chile, o filme selecionado foi Estádio Nacional, de Carmen Luz Parot, um documentário sobre o estádio que já havia sido palco de tantas alegrias futebolísticas e foi transformado em um tipo de presídio durante a ditadura de Pinochet. Os documentários corroboram com meu argumento de que a subjetividade permeia a memória das ditaduras e a impunidade ainda não conseguiu ser extinta. |
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Bibliografia | Bibliografia Básica e Filmografia
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