ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | O experimental no cinema português e brasileiro dos anos 70 |
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Autor | Maria Guiomar Pessoa de Almeida Ramos |
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Resumo Expandido | A ideia aqui é trazer à tona através de dados históricos e de uma análise fílmica comparativa um certo cinema português e brasileiro. Pretendo abordar os filmes Jaime, (1974) de Antônio Reis e Margarida Cordeiro, Pousada das Chagas, (1972) de Paulo Rocha, O anno de 1798, (1975) de Arthur Omar, Jardim Nova Bahia, (1971) de Aloysio Raulino, visando trazer à tona a presença de uma linguagem de ruptura no cinema português e brasileiro, presente nos anos 70, momento demarcador de um processo de mudança para diversos cinemas novos. Em Portugal, a radicalização da linguagem fílmica surge dentro do próprio novo cinema português, que já havia rompido com o que se fazia anteriormente: “Os Verdes Anos”,de Paulo Rocha, marcara o início desse movimento em 1963.No Brasil a presença de uma prática desafiadora em termos de linguagem está presente em Glauber Rocha e também ocorre junto à produção de filmes de baixo orçamento a partir de uma geração pós cinema novo, através da criação de um novo grupo, o dito cinema marginal e de experiências no âmbito do documentário. Na contramão do documentário sociológico cinemanovista estão os curtas de Omar e Raulino. O anno de 1798, investiga um fato histórico, a Revolta dos Alfaiates, tentativa de libertação do Brasil do julgo português. Sobreposto ao relato, Omar utiliza trechos de imagens de um parto cesária, intercaladas a travellings sobre estátuas e quadros clássicos do Museu de Arte do Rio de Janeiro e à performance de uma dançarina. Em Jardim Nova Bahia, o diretor/fotógrafo filma o depoimento de um homem, Deutrudes, que conta diversos episódios de sua vida. A seguir, Raulino entrega a câmera para Deutrudes que filma a estação do Brás e a praia de Santos. Metade do filme é preenchida pelo registro realizado por este personagem. Suas imagens meio fora de foco, tem um movimento espontâneo, são bastante poéticas remetendo à pureza dos registros do primeiro cinema. Marcando a radicalidade portuguesa alguns filmes como “Nojo aos cães, (1970),(Antonio de Macedo) O cerco, (1970),(Antonio da Cunha Telles), Uma abelha na chuva,(1968), (Fernando Lopes) de diretores pertencentes ao Cinema Novo, são chamados de ‘filmes de desespero’, “foram concebidos com um mesmo espírito de revolta perante o panorama do cinema português de então” (Cunha,2013:190). O dois curtas aqui mencionados de Rocha e Reis seguem esse parâmetro, representando o incontestável ato criador e transformador do que se fazia até então. Jaime retrata a vida de um doente mental, Jaime Fernandes.É biográfico, mas fala do homem a partir de sua produção artística,desenhos, pinturas.Trechos de depoimentos do próprio doente registrados em suas cartas,aparecem por intermédio da voz over de uma criança,ou ainda imagens de seu diagnóstico expostas através de gráficos, são trabalhadas com intervenções sonoras sobre imagens de água.Pousada das Chagas é sobre o recém-criado museu de arte sacra em Óbidos.Com citações a Rimbaud,Légende Dorée,Camões,Lao-Tse,o diretor através de uma colagem estabelecida pelo gesto do ator, cria uma performance junto a textos literários e objetos de arte. “O que emergiu foi um ‘drama sacro’ modernista, uma colagem de vozes, textos, objectos, espaços, pulsações.Corpos que ardem, que sofrem, que irradiam energia.”(Paulo Rocha).Me interessa apontar nesses quatro filmes, suas conexões com a poesia, a pintura, a fotografia e a performance, destacando o que têm em comum com o que podemos chamar de documentário, mais especificamente no formato curta. Ao estabelecer um processo comparativo entre a trajetória e as influências estabelecidas por cada um desses diretores, para além da questão do outro, ou da maneira como o documentarista se relaciona com o personagem ou objeto filmado, foco tão bem estabelecido pelos estudos de Jean-Claude Bernardet,me interessa refletir aqui sobre os procedimentos fílmicos experimentais que aproximam em sua forma e conteúdo,a produção dos dois países,de diretores que não se conheciam ou mantinham contato. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo. Brasiliense, SP, 1985.
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