ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Figuras do invisível no cinema contemporâneo brasileiro |
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Autor | Camila Vieira da Silva |
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Resumo Expandido | Em um conjunto de filmes brasileiros de ficção realizados nos últimos cinco anos, é possível identificar um contraponto ao modelo de encenação que marcou o cinema moderno nacional. No lugar da evidência dos corpos na cena, do excesso de drama e do efeito de presença, seja pelo diálogo com o neo-realismo ou pela afirmação da alegoria e da paródia, que predominaram no debate do cinema novo e do cinema marginal, outras marcas estéticas passam a ser pensadas e exploradas no cinema contemporâneo brasileiro. Algumas das características destes novos filmes de ficção nacionais apontam para outro tipo de encenação que investiga o descentramento das figuras humanas no plano, a rarefação das ações dramáticas, a diluição dos acontecimentos em prol da criação de atmosferas que traduzem mais sensações que escapam e desaparecem do que presenças concretas.
Por encenação, compreendemos não apenas a disposição de atores e seus gestos na construção de uma dramaturgia cênica e a evidência da presença do homem no mundo ao registrá-lo em meio a ações, cenários e objetos, mas sobretudo um vasto conhecimento de formas, de composição e de trabalho com o material plástico-figurativo das imagens. A encenação implica as escolhas estéticas do cineasta em relação àquilo que ele pretende colocar como plano, incluindo enquadramento, profundidade de campo, movimentação de câmera, iluminação, orquestração de ambiências. Parte do cinema ficcional brasileiro contemporâneo reposiciona o estatuto da encenação ao apostar na construção de uma estética do desaparecimento, que pode ser investigada em curtas como “Camila, Agora” (2013), de Adriel Nizer Silva; e “Dia Branco” (2014), de Thiago Ricarte; e longas como “Eles Voltam” (2011), de Marcelo Lordello; “Linz – Quando Todos os Acidentes Acontecem” (2013), de Alexandre Veras; e “O Sol Nos Meus Olhos” (2012), de Flora Dias e Juruna Mallon. De que modo estes filmes criam figuras cinematográficas que dão conta do invisível e em que medida tal estética do desaparecimento dialoga com o mundo contemporâneo em que vivemos? Este trabalho pretende pensar as principais figuras do invisível que cada filme se serve: o desfoque e o contraluz como estratégias para o desaparecimento do rosto em “Camila, Agora”; o espaço atmosférico como indício da ausência em “Dia Branco”; a diluição das ações dramáticas e a exploração do fora de campo para enfatizar a errância da personagem em “Eles Voltam”; a rarefação do plano para um estudo da experiência do deserto e do cansaço em “Linz – Quando Todos os Acidentes Acontecem”; os espectros e as fantasmagorias para acentuar lugares de passagem e travessias em “O Sol nos Meus Olhos”. A hipótese principal da pesquisa é de que, ao criar figurações do invisível, os filmes brasileiros recentes analisados aqui apontam para uma resistência ao modo de estar no mundo contemporâneo, em que as relações ainda são marcadas pelo excesso de visibilidade ou de fruição imediata de presenças. A estética do desaparecimento no cinema contemporâneo brasileiro pode oferecer pistas para outras formas de experiências, que consideram um modo de vida mais discreto, minimalista, atento às intermitências, aos vazios e às invisibilidades que também atravessam nossa relação sensorial com o mundo. A intenção é mapear e compreender a estética de determinadas produções audiovisuais brasileiras no campo da ficção que se colocam de encontro a uma tradição do cinema nacional, que explora imagens de excesso, de saturação, de presença de corpos, em diálogo com o melodrama e o espetáculo. Pensar tais filmes a partir deste recorte implica compreendê-los como uma resposta ética e estética ao cotidiano de uma sociedade marcada pela proliferação de imagens, de simulacros, de signos, de visibilidades e de presenças. O desaparecimento e a figuração do invisível no cinema brasileiro contemporâneo não são compreendidos como apostas à pura indiferença ou à recusa pelo recolhimento, mas como afirmação de outras formas de experiências. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. O cinema e a encenação. Lisboa: Texto & Grafia, 2006.
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