ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Estar perto não é físico: a ontológica da existência |
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Autor | Gregorio Galvão de Albuquerque |
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Resumo Expandido | O filme “Os famosos e os duendes da morte” do diretor Esmir Filho é uma adaptação do livro homônimo do escritor brasileiro Ismael Caneppele e retrata os conflitos e sentimentos escondidos de um menino morador de uma cidade do interior. O filme está fora de uma padronização e de uma banalização de percepções realizada pela indústria cinematográfica porque busca uma relação da realidade cinematográfica com as sensações, emoções e memórias de um espectador ativo. No filme, Esmir recria, através da vida desse menino, toda a representação da confusão e da nebulosidade da adolescência.
Nos primeiros momentos do filme um casal de jovens é apresentado para o espectador através de vídeos acessados pela internet pelo menino de nickname Mr. Tambourine. Esse casal produz vídeos sobre sua vida, ambos visualmente sensíveis, falam sobre suicídio e são essencialmente melancólicos ao mostrar o lado obscuro, confuso e angustiante da adolescência. A jovem produz sua linha do tempo da sua vida na internet através desses vídeos, contudo é uma linha do tempo editada, ou seja, ela colocou o que quis colocar, o que interessava e como ela queria que os outros a vissem. Mesmo após a sua morte essa linha permanece e você ainda pode sentir a presença dessa menina, está lá mas não fisicamente. O jovem, de nickname Mr Tambourine Man, acessa esses vídeos e se apropria da vida dela como se ela ainda estivessem viva. Esse menino também sofre esse sufocamento e talvez por isso é obcecado por essa menina que tem sua vida na internet. Mesmo ela estando morta, ela está muito presente para ele através daqueles vídeos. Então como a morte pode ser tão ausente e tão presente simultaneamente? Os vídeos são postados na internet para serem vistos e olhados? Como e por que criamos nossas cenas editadas para serem vistas por todos? Zizek (2009) demonstra, a que a fantasia que atrai o nosso fascínio pela cena, nesse caso os vídeos do casal de jovens pelo Mr Tambourine, não é propriamente a cena e sim o olhar/inexistente que a observa com o olhar impossível. “A cena fantasmática mais elementar não é uma cena que existe para ser olhada, mas a ideia de que ‘alguém está olhando para nós”; não é um sonho, mas a noção que ‘somos os objetos de sonho de outro” (ZIZEK, 2009, p.86). O autor se questiona também se a tendência das webcams do acompanhamento contínuo do acontecimento que se passa em um local da vida de uma pessoa revela a mesma necessidade urgente do olhar fantasmático do outro, ou seja, “só existo na medida que sou olhado constantemente [...] O sujeito precisa da câmara como uma espécie de garantia ontológica de sua existência” (ZIZEK, 2009, p.87) Na cena final do filme, Mr Tambourine Man está atravessando uma ponte e olha para o lugar onde as pessoas pulam e fica por um momento parado. Não sabemos o que passa na cabeça dele, só sentimos uma certa confusão que nos deixa apreensivos mas esse conflito logo passa quando ele decide atravessar a ponte, sem olhar para trás e o filme termina no seu desfoque. O importante é que no final ele olhou para frente e atravessou a ponte, tendo decidido no meio da sua confusão e conflitos da adolescência. Será que ele foi buscar os outros espaços e outras pessoas que ele tinha perto via as imagens da internet? Essas pessoas existem ou existiram? O filme termina, porém permite ao espectador pensar que são vários longes, várias confusões, várias leituras que podem ser realizadas. É uma experiência que se acaba e recomeça a cada filme diferente, a cada confusão na vida real ou estranhamento em um filme. |
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Bibliografia | COMOLI, Jean-Loius. Ver e poder: a inocência perdida: cinema, televisão, ficação, documentário. Trad. Augustin de Tugny, Oswaldo Teceira, Ruben Caixeta. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
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