ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | "O Vigilante", antes e depois de um fim |
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Autor | Pedro Plaza Pinto |
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Resumo Expandido | É possível repensar a definição do cinema brasileiro contemporâneo no período do final do século XX? A pergunta se deve ao fato de que são identificáveis caracteres de continuidade entre projetos estéticos do período anterior ao momento conhecido como "retomada" e a dispersão desta ideia na virada do século. Neste sentido, "O Vigilante" (Ozualdo Candeias, 1992) é um filme que indica a permanência na situação de penúria que demarca o período da década após o fim da Embrafilme, sem distinção entre colapso e retomada. A construção de caráter autoral reporta elementos já presentes na filmografia anterior de Candeias (Cf. Uchôa, 2008 e Pinto, 2006). Por um lado, no nível temático, há a figuração da migração oriunda da zona rural para a periferia da grande cidade, tendo em comum a miséria e o desalento em ambos os espaços. Por outro lado, no nível formal, o filme reapresenta um relato disjuntivo e flutuante onde se sobrepõe a vocalização da matriz popular pela música caipira e a montagem em ritmo moderno, em conformidade com o estilo do cineasta. O filme prolonga projetos anteriores de Candeias e se dedica ao exame da exploração do caipira pela cidade brutal, conforme o crítico Paulo Emilio Salles Gomes definiu a narrativa de "Zézero" (Ozualdo Candeias, 1974).
Entretanto, o material também está permeado de dados e referências à história imediata com menções ao governo Collor de Mello, ao confisco da poupança, ao crescimento da violência nas periferias das cidades. São construídas as figuras maléficas de um grupo criminoso que controla o tráfico de drogas no arrabalde onde trabalhadores emigrados são obrigados a contribuir com um "pedágio" de segurança. A perversidade dos criminosos é contraposta à figura do pacato trabalhador que se transforma em justiceiro, levado a agir quando os atos violentos atingem níveis insuportáveis. Dez anos depois, este poderia ser o mesmo mote para reportar trechos da narração do consagrado filme "Cidade de Deus" (Fernando Meirelles, 2002), construído em outra proposta formal e apresentando um personagem-narrador que passa incólume por situações de risco social, atingindo a sua humanização frente à violência também inevitável. Narrativa sobre o desengano e a consciência face à ilusória esperança, "O Vigilante" será lido como antecipação da constatação de que a ideia de retomada apresentava limitações. No balanço crítico dos anos 1990 (Cf. Vieira e outros, 2001), realizado no começo da década seguinte, foi colocado ao lado de filmes como "Cronicamente inviável" (Sérgio Bianchi, 2000) e "Um céu de estrelas" (Tata Amaral, 1996): sentimento de pertencimento danificado, corrosão social, ausência de perspectiva e inequação dos sujeitos diante de seus projetos. Em mais de um momento Ozualdo Candeias coloca na boca de seus personagens-figuras observações generalizantes sobre o país e a situação social. O desalento é dado de saída, logo no começo do filme, quando um piriquito de realejo retira para o protagonista um cartão que diz: "O que você está querendo é uma mensagem de esperança, mas no Brasil dos Collors isso não está nada fácil". Redescoberto e celebrado a partir do início do século XXI, Candeias teve sua obra examinada em mostras que o alçaram à condição de cineasta sem par, estranho até mesmo no ninho do cinema marginal (Cf. Puppo e Haddad, 2001; Puppo e Albuquerque, 2002). Sua obra foi revista e seus filmes repostos diante da marcha do cinema local, sempre como exemplo de liberdade e ousadia em contracorrente. Assim sendo, o objetivo desta proposta de comunicação é articular filme e contexto, analisando "O Vigilante" diante do panorama histórico do cinema brasileiro do nosso final de século XX. |
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Bibliografia | PINTO, Pedro Plaza. Ritmo e ruptura na narração de Zézero. In: SOCINE Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema. Estudos de cinema Socine VII. São Paulo : Annablume, 2006.
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