ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Análise semiótica da cineinstalação interativa Socketscreen. |
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Autor | Pablo Villavicencio |
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Resumo Expandido | Vivenciamos a obra durante sua projeção sobre a fachada do antigo prédio da praça V. Civita, em São Paulo, em 2013. As imagens projetadas selecionadas pelo software são bem diversas: fotografias, reproduções de pinturas, ilustrações, textos, porém todas são imagens estáticas, o seu movimento não está no interior das imagens, mas na articulação de uma edição alinear, automática e aleatória, tanto as escalas das imagens variam, como as suas posições, são atualizadas e substituídas no tempo presente do evento, o ritmo é criado pela edição. A maioria das imagens, se tomadas individualmente, obedeciam os parâmetros da perspectiva ocidental, limitadas pela sua “moldura”, formando, no interior do quadro, pequenas janelas, semelhantes às janelas das telas do computador, e mudavam de posições e/ou de escala no espaço projecional. Em alguns momentos uma imagem ocupa quase todo o espaço de projeção, em outros, várias imagens menores se sobrepõem, sem transparência, movimentam-se, por vezes, se encavalam. E misturam-se rapidamente criando o efeito de justaposição de janelas, o que rompe com a unidade de planos da linguagem do cinema convencional, pois não temos um plano de cada vez. A linguagem da obra está próxima da estética videográfica, que opera com planos mais independentes entre si e simultâneos, ás vezes, com o efeito de janelas, tal como, P. Dubois (2005) aponta em seu estudo sobre a estética da imagem do vídeo. Havia uma ruptura com os parâmetros da perspectiva clássica, provocada pelas rápidas justaposições das imagens. Quando descrevíamos trajetórias aleatórias do olhar nesse espaço repleto de imagens, parecia que as qualidades das diversas cores se misturavam, isso ocorria quando nos desconcentrávamos do aspecto simbólico imagético. A parte inferior do espaço da projeção “destacava-se”, criando um “relevo”, por estar sobre uma superfície que não fazia parte da parede plana da fachada, o que contribuiu para a ruptura da imagem única de uma projeção de cinema tradicional. E nesse espaço arquitetônico, as qualidades materiais da superfície, os relevos e as texturas, “aderiam” à imagem, modificando sua forma, atribuindo-a certo relevo e textura de paredes de “tijolos à vista”. Assim, as imagens adquiriram uma característica háptica, remetendo ao sentido tátil que, junto ao som, produzia uma sensação de sinestesia. A forma retangular das três grandes janelas (verticais) da fachada do prédio coincidiam com muitas das formas imagéticas, criava-se um diálogo entre imagem e superfície física. A edição aleatória e alinear influenciava a trajetória do olhar do espectador, mas não o dirigia, pois à medida que algumas imagens surgiam em determinada coordenada do espaço outras desapareciam, ou ressurgiam em outros espaços da projeção, assim os caminhos das imagens no quadro pareciam aleatórios. Os signos da obra representaram uma espécie de “imaginário coletivo” dos interatores, expressos em meio ao “infinito” banco de dados da web. Devido ao caráter itinerante da obra, era forte a presença de imagens com valor simbólico no imaginário local, o espaço de projeção tornava-se uma expressão do imaginário coletivo local e global (banco de dados da web). E o som operava de modo contínuo, sendo abstrato, processado, computacional e grave, evocando a sensação de estarmos diante da própria tecnologia, sendo puras qualidades, não se organizavam em uma melodia, e se repetiam, o que contribuía para a imersão do espectador e criava uma sensação hipnótica. Socketscreen oferece uma plataforma em que o imaginário é criado nos fluxos, nas redes, nela os espaços são múltiplos e fundidos com o lugar de exibição. O interator age por meio de uma relação simbólica com as imagens em sua mente, seus signos verbais são traduzidos em imagens e textos. A obra não acontece sem a ação interativa, segundo K. Kwastek (2014), na arte interativa as próprias ações do usuário são uma condição da experiência estética. |
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Bibliografia | CRUZ, Roberto Moreira S. .Imagens Projetadas: Projeções audiovisuais e narrativas no contexto da arte contemporânea. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica: São Paulo, 2011.
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