ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Vermelho como sangue: a luta de Franco contra os bolcheviques no No-Do |
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Autor | Rafael Fermino Beverari |
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Resumo Expandido | A posição da Espanha durante a 2ª Guerra Mundial foi marcada, entre outros aspectos, por dois discursos: em um primeiro momento, o de neutralidade, e posteriormente o de nação "não beligerante". Enquanto os embates se adensavam entre os países do Eixo e os Aliados, na disputa e na conquista de espaço na frente de guerra, esta pretensa posição neutra determinada pelo governo espanhol escondia uma complexa estratégia, que se caracterizou pelo constante diálogo com todas as partes envolvidas nos confrontos, com aproximações ora de um lado, ora de outro.
Parte desse posicionamento da Espanha encontra-se representado nas notícias elaboradas e veiculadas pelos Noticiarios y Documentales, cinejornal que começou a ser exibido em 1943 por todo o território espanhol. Por se constituir durante o delicado momento da guerra, temas pertinentes às tomadas de posição da Espanha no conflito vêm à tona na medida em que este noticiário oficial dispõe do controle da informação, instrução e recreação por meio deste sagaz aparato audiovisual. Ainda durante os conflitos da Guerra Civil, a Espanha nacionalista procura fundar seus pilares por meio de dogmas como a religião católica, o Estado, a propriedade e a família. Influenciado pelo teórico do tradicionalismo, Víctor Pradera, Franco lança mão de um fervoroso nacionalcatolicismo que tem como base histórica a reconquista cristã frente aos muçulmanos. Exemplo disto foi um Decreto de 2 de fevereiro de 1938 que promulgava a criação de um novo escudo da Espanha, cuja águia (símbolo do apogeu romano) denota uma ideia imperial. Conhecida como águia de São João, a Espanha carregaria consigo, assim como este evangelista, uma missão de disseminar seu futuro vigoroso fundamentado por um passado imperial. Diz o decreto que "El águila que en él figura no es la del Imperio germánico, al cabo exótica en España, sino la del evangelista San Juan, que, al cobijar bajo sus alas las armas españolas, simboliza la adhesión de nuestro Imperio a la verdad católica." Os combates da Guerra Civil já haviam acabado fazia algum tempo, porém a utilização da Divisão Azul nos campos de batalha traz alguns apontamentos bastante sugestivos sobre a ininterrupta disputa contra a União Soviética. A quantidade de programas de No-Do que proclamavam "La lucha contra el comunismo" , "La cruzada anticomunista" ou a "Guerra al comunismo" indicam que a presença do “inimigo” real e simbólico, representado pelo comunismo, não era algo supérfluo. A política internacional da Espanha atrelada ao militarismo passa a ser operada pelo viés de uma luta inacabada. Não é por acaso que o tradicionalismo - carregado pelo partido falangista -, a composição de um exército - para combater o inimigo exterior que traz consigo a corrupção mundana - e a Igreja - que justifica a necessidade de organização e coesão internas ao território espanhol - são três signos presentes nestes primeiros anos de No-Do. Se os Noticiarios y Documentales não podem ser tidos como um reflexo completo da sociedade espanhola, ao menos fornece evidências de como foi construída a imagem de uma Espanha que se pretendia ora neutra, ora não beligerante diante dos conflitos mundiais. |
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Bibliografia | ARCHANGELO, Rodrigo. Um Bandeirante nas telas de São Paulo. 2007. Dissertação (Mestrado). Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.
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