ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Flora Gomes e o uso de alegorias no cinema de Guiné-Bissau |
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Autor | Morgana Gama de Lima |
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Resumo Expandido | Diante da variedade de filmes produzidos pelos cinemas africanos de língua portuguesa e da relevância de seus autores para pensar a influência de movimentos diásporicos na constituição de narrativas audiovisuais, esta comunicação tem a proposta de analisar parte da obra do cineasta guineense Flora Gomes no sentido de compreender como a utilização de recursos alegóricos na narrativa fílmica indica novas possibilidades de circulação e análise dos filmes africanos para além das idiossincrasias históricas ou geográficas do seu contexto de produção. Considerando a necessidade em se construir investigações voltadas para a linguagem cinematográfica de filmes africanos, nosso trabalho visa analisar filmes desse cineasta a partir de uma avaliação das estratégias empregadas na construção de suas narrativas, utilizando como suporte metodológico os procedimentos da análise poética (GOMES, 2004) e a noção de alegoria (BENJAMIN, 1984) enquanto um elemento que, ao tempo que constitui essas narrativas, produz um efeito de transnacionalização da obra cinematográfica permitindo o seu trânsito nas diferentes esferas de recepção que compõem essa espécie de “cosmopolitismo lusófono” composto pelos países de língua portuguesa. Mesmo com o pouco tempo de existência – aproximadamente 50 anos – os cinemas africanos têm demonstrado trazer grandes contribuições para o cinema contemporâneo mundial, tanto do ponto de vista temático, ao trazer em suas narrativas questões políticas complexas, os efeitos do pós-guerra, quanto pelo aspecto da produção, ao apresentar novas poéticas fílmicas a partir da experiência diásporica de seus realizadores. À medida que foram firmados regimes de coprodução, o cinema desses países também se fortaleceu (CUNHA, 2013) ganhando um suporte em infra-estrutura de produção, distribuição e circulação de seus filmes, esta última, principalmente em festivais e mostras de filmes. Integrando esse contexto de cooperação internacional, será dado destaque aos filmes Po di sangui (Pau de Sangue, 1995) e Nhá fala (Minha fala, 2000), produzidos por Flora Gomes. Na primeira narrativa, os habitantes de uma aldeia ficcional vivem em correlação com as árvores, para cada pessoa nascida, uma árvore é plantada; no segundo, uma comunidade vive sob uma tradição em que as mulheres são proibidas de cantar e, caso o fizessem, seriam amaldiçoadas com a própria morte. Filmes feitos em regime de coprodução com Portugal e cujas narrativas ao apresentarem elementos alegóricos, construções ficcionais em que representações se desdobram em outras significações, contribui para os estudos audiovisuais em termos estéticos, visto que a construção alegórica influencia na poética dos filmes, e também permite uma percepção crítica sobre questões de pertencimento, territorialidade, tradição, modernidade, temas globais que, mesmo partindo de uma abordagem visual pautada em elementos localizados – a paisagem de países como Tunísia, Cabo Verde, o uso do dialeto crioulo como língua das personagens – é capaz de, ainda assim, estabelecer diálogos com comunidades alheias às realidades dos países africanos. É um cinema que ao se transnacionalizar “(...) decreta de um lado a obsolescência da ideologia das identidades nacionais fixas, bem como, promove debates sobre todos os ‘modos de identificação emocional’ e sua mise en scène nos filmes (...)” (BAMBA, 2011, p. 173). Em contraponto a análises dos cinemas africanos em perspectivas “territorializantes”, na condição de cinemas periféricos ou pós-coloniais, nossa reflexão acredita que o uso de alegorias na constituição narrativa contribui para pensar sobre os efeitos da articulação entre países sobre a produção cinematográfica e em que medida essa articulação engendra novas formas de fazer e pensar cinema em contexto pós-colonial, antes restrito a abordagens/interpretações nacionalistas, mas que agora se transforma pela possibilidade de transnacionalizar-se. |
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Bibliografia | BAMBA, Mahomed. Do “cinema com sotaque” e transnacional à recepção transcultural e diaspórica dos filmes. In:___Palíndromo – Processos artísticos contemporâneos, n.5, 2011. (p. 165-193).
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