ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A estilística da forma aplicada aos personagens em "Renascer" |
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Autor | Álvaro André Zeini Cruz |
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Resumo Expandido | Em “Sobre a história do estilo cinematográfico”, David Bordwell denomina estilo como um “uso sistemático e significativo de técnicas da mídia cinema em um filme” (2013, p. 17) e exemplifica tal designação citando domínios como “mise-en-scène (encenação, iluminação, representação e ambientação), enquadramento, foco, controle de valores” (2013, p. 17) como componentes do que ele considera ser o estilo. Seu interesse resultou em posterior estudo delimitado à questão da mise-en-scène em “Figuras traçadas na luz”.
Bordwell, entretanto, sublinha os percalços de se debruçar sobre tais questões, comumente associadas a um certo formalismo que, segundo ele, é acusado de “isolar o cinema do que realmente importa – sociedade, ideologia, cultura” (2013, p. 18). Bordwell discorda de tal posição: para ele, “é perfeitamente possível descobrir que os fenômenos formais que estamos tentando explicar procedem de causas culturais, institucionais, biográficas e de outros tipos” (2013, p. 19). Ou seja, a forma é capaz de levar aos estudos do conteúdo. O presente trabalho propõe transportar este pensamento de Bordwell para o campo da televisão, mais especificamente para a telenovela, por meio do título de “Renascer”, trama que foi ao ar pela TV Globo em 1993, escrita por Benedito Ruy Barbosa e com direção geral de Luiz Fernando Carvalho. A opção por tal trama se dá por sua importância na história da telenovela da emissora – ressaltada inclusive por um de seus históricos executivos, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho –, e pelo caráter de novidade que representa quando comparada dentro do gênero, já bastante cristalizado, ao qual pertence. Ambientada numa paisagem rural, com um grande número de externas, trama com um ritmo lento e decupagem que, com recorrência, se desvencilha do engessado esquema das quatro câmeras predominante nas telenovelas, “Renascer” adapta para os padrões Globo o já bem-sucedido “teste” feito pela Rede Manchete com “Pantanal”. Alguns de seus diferenciais serão discutidos na apresentação aqui proposta através da análise de estilo das cenas de apresentação de três personagens marcantes da obra – a protagonista Mariana (Adriana Esteves), o jagunço Damião (Jackson Antunes) e o catador de caranguejos Tião Galinha (Osmar Prado). A escolha dessas cenas se dá pela maneira intrínseca como o estilo dialoga com o perfil/trajetória dos personagens: Mariana, protagonista que oscila entre o profano e o sagrado, é retratada pela encenação e pela tonalidade da cena como uma espécie de Lolita angelical; Damião, matador de aluguel, é inserido através de uma decupagem que remete a dos westerns; já Tião, que passa a trama desejando um pedacinho de terra, estreia na trama com o corpo praticamente camuflado pela lama, confundindo-se com o cenário, um mangue. O estudo dessas três cenas remonta, portanto, a ideia defendida por Bordwell de que “estruturar questões de pesquisa a respeito de processos formais como o estilo não é comprometer-se com a crença de que as explicações decorrentes são inteiramente de ordem formal” (2013, p. 19). Há, portanto, muito de narrativo na forma. |
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Bibliografia | BLOCK, Bruce A. A narrativa visual: criando a estrutura visual para cinema, TV e mídias digitais. São Paulo: Elsevier, 2010.
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