ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | As desterritorializações da imagem: espaço, experiência e fruição |
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Autor | Eduardo Antonio de Jesus |
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Resumo Expandido | Dando prosseguimento as reflexões desenvolvidas nas últimas participações no Socine, retomamos a relação entre os agenciamentos que caracterizam nossa experiência no espaço e o modo como as imagens em movimento se colocam nessa processualidade.
Podemos pensar em duas linhas. Uma delas voltada para o modo como o espaço é representado pela imagem em movimento. Desde a primeira seção de cinema, a lendária exibição dos irmãos Lumière, que o espaço, especialmente o urbano, se deu a ver no cinema. Ao longo do tempo inúmeros desdobramentos construíram novos sentidos para os modos de representar o espaço no cinema. Da mesma forma, os espaços expositivos voltados para a arte, como museus e galerias, passaram ao longo do tempo a abrigar múltiplos desdobramentos das imagens em movimento. Num primeiro momento, de forma mais apaziguada, as imagens estavam circunscritas (e fechadas) no contexto das instalações sem estabelecerem diálogos mais diretos com as outras obras. Ao longo do tempo essa situação foi sendo alterada permitindo que as imagens em movimento saíssem das instalações e passasem a ocupar mais intensamente o espaço expositivo sem a “proteção” formal dos espaços instalativos confrontando-se mais diretamente com outras obras em distintos suportes. Essas duas linhas nos permitem ver as intensas relações entre imagem e espaço. Nos interessa, refletir sobre uma zona de intercessão entre essas duas linhas, que nos permite ver como esses processos ocorrem, apesar de suas diferenças e peculiaridades. Nos aproximamos dessa intercessão acionando as noções de territorialização, desterritorialização e reterritorialização desenvolvidas por Deleuze e Guattari. Na primeira linha, podemos pensar em filmes como “O som ao redor” (Kleber Mendonça, 2012) e “Branco sai, preto fica” (Adirley Queirós, 2014). Apesar de distintos em suas formulações, um no campo da ficção e outro problematizando a fronteira entre ficção e documentário, esses filmes mostram como a imagem desterritorializa as visões mais apaziguadas do espaço, nos remetendo mais diretamente a própria vida. As linhas de fuga que se estabelecem com esses filmes tratam de nos mostrar as potências desterritorializantes da imagem em movimento, quando acionadas por projetos políticos que devolvem vigor as formas de representação e assim, ao contrário de uma montagem pacífica que domestica o espaço e seus intensos conflitos e disputas, os filmes tomam a linguagem e as articulações típicas do cinema para friccionar ao máximo as tensões típicas das disputas espaciais no Brasil contemporâneo. Como afirma Michel Snow: “events take place” (HEATH, 1976). Stephen Heath reflete sobre essa questão tomando a narrativa e a ação como elementos constitutivos na construção espacial dos filmes. No entanto, vamos extrapolar essa reflexão fundadora de Heath para perceber que alguns filmes, como os que apontamos anteriormente, partem de um espaço desterritorializado para, na montagem, se reterritorializarem, para além da narrativa, e nos mostrarem as diversas disputas espaciais contemporâneas, como as que vemos em metrópoles como Recife ou Brasília. Em outra linha, no domínio da arte, vemos que obras que se estruturam em torno da imagem em movimento tomam a duração como um dos vetores de desterritorialização. A duração traz o tempo para o domínio da arte e aciona uma complexa desterritorialização, tanto do espaço expositivo como dos próprios processo de fruição. Obras como “Ten Thousand Waves” (Isaac Julien, 2010), “The Clock” (Christian Marclay, 2010) ou “Rua de mão dupla” (Cao Guimarães, 2002) desterritorializam o espaço expositivo com imagens em movimento, pela duração e também pelos próprios modos de ocupar o espaço. São novos territórios, formam-se na dinâmica entre desterritorialização e reterritorialização. Os lugares se alteram, as dinâmicas de fruição, o modo de ocupar o espaço e a configuração das obras gera importantes processos de desterritorialização do próprio domínio da arte. |
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Bibliografia | BALSOM, Erika. Exhibiting cinema in contemporary art. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2013.
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