ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Co-produção como modo de existência: Guiné-Bissau e Cabo Verde |
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Autor | Paulo Cunha |
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Resumo Expandido | Em 1956, quando um grupo de jovens guineenses e cabo-verdianos fundaram o PAIGC – Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde, um movimento anticolonialista de orientação marxista-leninista, alimentavam a utopia de construir uma nação comum que incluísse os dois territórios. Depois de cinco anos de um regime político comum (1975-80), os dois territórios separaram-se e seguiriam caminhos bem distintos.
Quarenta anos depois da independência, seguindo projectos culturais e cinematográficos distintos, os cinemas de Guiné-Bissau e Cabo Verde encontram-se em situação semelhante: com uma produção interna precária e escassa, os cinemas desses países apenas sobrevivem graças aos acordos de co-produção com outros países. Portugal, antiga potência colonizadora destes territórios, tem sido o país que mais tem investido em programas de cooperação cultural e educativa. O cinema e a televisão tem sido duas das áreas de maior intervenção. Nos últimos anos, uma das apostas da política cinematográfica portuguesa tem sido o apoio à produção de filmes em regime de co-produção com os países de língua oficial portuguesa. A estratégia portuguesa, apesar de certa invisibilidade mediática, procura estabelecer relações de cooperação com países ou comunidades (como o caso de Macau) com traços identitários reconhecidos como comuns: língua, religião ou património histórico e cultural. Impreterivelmente, os espaços de contacto privilegiados têm sido três: o europeu, desde a adesão à Comunidade Económica Europeia; o lusófono, apoiado nos trabalhos da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP); o latino-americano, por influência do Brasil e de Espanha. A estratégia de cooperação cinematográfica com esses países lusófonos começou logo nos anos 80, com a assinatura de acordos bilaterais: em 1981, Portugal e Brasil assinaram um acordo (Decreto n.º 48/81, de 21 de Abril) que só seria ratificado pelo Brasil em 1985; em 1989 foi a vez do acordo bilateral com Cabo Verde (Decreto 33/89, de 10 de Agosto); com Moçambique foi assinado em 1990 (Decreto n.º 52/90, de 11 de Dezembro); em 1992, seria assinado um acordo de colaboração com Angola (Decreto n.º 12/92, de 20 de Fevereiro); em 1994 seria a vez de São Tomé e Príncipe (Decreto n.º 17/94, de 17 de Junho). Actualmente, em matéria de cooperação cinematográfica, o Estado português mantém activos apenas 8 acordos bilaterais de cooperação, 4 dos quais com países lusófonos (Angola, Brasil, Cabo Verde e Moçambique). Fundada em 1996, a CPLP nasceu da vontade, segundo o então ministro português Jaime Gama, de “tornar consistente e descentralizar o diálogo tricontinental dos sete países de língua portuguesa espalhados por África, Europa e América”. Neste sentido, elegeram-se como objectivos, entre outros, a cooperação na cultura e a materialização de projectos de promoção e difusão da língua portuguesa. O cinema, naturalmente, é um instrumento que permite potenciar estes dois objectivos. Assim, ao longo dos anos, a CPLP tem apoiado e patrocinado diversas iniciativas de divulgação da cultura cinematográfica, como organização de festivais (FESTin) e mostras de cinema (Semanas Culturais da CPLP, Juventude CPLP), financiamento de prémios de incentivo (Prémio CPLP no DOC Lisboa), concursos de filmes (Concurso de Curta Metragem no IV FIC Luanda), entre outras. É objectivo desta breve apresentação caracterizar o actual contexto de co-produção nesses países, nomeadamente o enquadramento histórico das relações culturais no contexto da descolonização e o quadro legislativo em vigor, avaliando a importância das políticas de cooperação cinematográfica no desenvolvimento de cinematografias de países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento. |
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Bibliografia | CABRAL, Amílcar (1984). A cultura nacional: o papel da cultura na luta pela independência. Bissau: PAIGC.
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