ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A Paisagem Sonora em Filhos do Carnaval: Hirrealismo e Imersão na TV |
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Autor | Lihemm A. P. Farah Leão |
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Resumo Expandido | A televisão tem passado por muitas transformações tecnológicas, técnicas e estéticas, desde o seu surgimento na década de 1950. E a partir dos anos 1970, se tornando mais forte em meados da década de 1980, a predominância de abordagens neotelevisivas (Eco, 1984), e da televisualidade (Caldwell, 1994), acaba por intensificar mudanças tanto naquilo que a TV produz em suas possibilidades de leitura e fruição, ou seja, em sua espectatorialidade, quanto a aparência e a linguagem adotadas por seus conteúdos.
De tais transformações televisuais emergem discussões e questionamentos acerca da nova visualidade que a televisão-estilo fez insurgir. Mas, ainda que a virada imagética (Mitchell, 1994) da televisão detenha parte importante da ênfase estilística, assim como seu caráter de experimentação em linguagem, o som se afirmou como componente de estilo e estética fundamental para essas experimentações, tanto quanto a imagem. Ainda, a televisão e o cinema vêm apresentando uma troca de linguagens cada vez maior, que tem borrado as fronteiras estéticas e de linguagens que se interporia entre ambos; o que resulta em uma chave de influência recíproca, de mútua quota de modificação em seus conteúdos. Deste modo, assim como o cinema começa a se apropriar de linguagens predominantemente televisivas, como o videoclipe, a TV também dialoga, desde o seu surgimento, com códigos, referências e linguagens dos gêneros cinematográficos, assim como tem incorporado estratégias de imersão próprios do cinema e reinventado sua forma de expectação. O crescente caráter de experimentação dentro da televisão reafirmam a necessidade de aprofundar as análises voltadas para linguagem de TV, nesse momento em que além de sua singularidade enquanto meio ela vem agregando outras possibilidades espectatoriais. Tais transformações formais dentro dos conteúdos televisivos pontuam a importância do som dentro de sua análise, uma vez que o som é componente fundamental nessa aposta sensorial da ficção seriada. Deste modo, este artigo situa sua análise na série brasileira “Filhos do Carnaval”, da HBO, por ser, a mesma, exemplar no que diz respeito às estratégias da televisão estilo (Caldwell, 1994), especialmente a partir de uma análise de som. A recorrência de recursos estilísticos em sua paisagem sonora interessa a esta discussão por marcarem uma experiência autoral televisiva, a partir de linguagem e formato próprios da televisão, mas que incorporam também estratégias de imersão e construção de atmosfera sonora que podem ser encontrados no cinema. A série analisada neste trabalho apresenta uma paisagem sonora que marca a construção de uma atmosfera muito presente, com recursos de estilo que direcionam para um hiperrealismo sonoro; estética esta que está cada vez mais presente no cinema latino-americano e no cinema brasileiro. Deste modo, a série traz a ênfase no estilo que é própria da ficção seriada produzida pelo canal HBO, e traz também singularidades e transversalidades que permeiam o âmbito da produção audiovisual brasileira. Como essas estratégias se dão na construção de sua paisagem sonora é justamente o que este artigo pretende analisar. Por fim, se a televisão se encaminha para uma crescente experiência de imersão, especialmente nas TVs fechada, o som potencializa essas estratégias imersivas e impulsiona um caráter experimental na televisão, mesmo em conteúdos narrativos. Outrossim, a imagem-ritmo amplificada pelo tom hiperrealista do som em séries como “Filhos do Carnaval”, baliza como esse processo de imersão pode se dar por outros caminhos mais autônomos em relação ao discurso textual e mesmo em séries dramáticas em que a voz da fala ainda assume um papel direcional dentro da trama. Desse modo, a discussão a que se propõe este trabalho pretende identificar um caminho para a experimentação autoral, formal, através de uma maior liberdade na plástica da TV, mas que reside em muito em sua sonoridade. |
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Bibliografia | CALDWELL, John Thornton. Televisuality: style, crisis, and authority in American Television. New Jersey, Rutgers, 1995.
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