ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Um Cinema que Pensa o Social: Uma Ontologia |
|
Autor | Fábio Nauras Akhras |
|
Resumo Expandido | Este artigo apresenta uma ontologia voltada para a análise da expressão filmica da desigualdade social – uma ontologia que permite pensar o social a partir do cinema. Se, de acordo com Sorlin, o cinema é ao mesmo tempo repertório e produção de representações que circulam numa formação social, composto por imagens que se aglutinam em torno de determinada noção (de fábrica, de trabalho, de campo, de cidade, etc.), então, o cinema, enquanto produção cultural, pode ser considerado um meio diferenciado para o conhecimento da sociedade, e deve ser possível desenvolver, a partir do cinema, uma compreensão de aspectos de realidades sociais que estão fora do discurso formulado. Uma ontologia permite explicitar aspectos de realidades sociais abordados pelo filme através de uma linguagem comum, possibilitando estudos comparativos, e facilitando a análise dessas realidades e a discussão de teorias sobre elas, levando a uma ampliação da capacidade de pensar com e sobre um conhecimento social.
Essa ontologia virá da definição de unidades de análise de fenômenos associados à desigualdade social, incluindo a consideração do papel do contexto social, das pessoas, e da interação entre eles, considerando aspectos de temporalidade, bem como aspectos de fenômenos físicos e psicológicos relacionados com a desigualdade social. Algumas das questões que uma análise baseada na ontologia permitirá responder são: como aspectos particulares de um contexto social afetam a forma como as pessoas podem obter igualdade social? O que as pessoas farão em um dado contexto social para obter igualdade social? Como as oportunidades oferecidas por um contexto social podem possibiltar ou impedir que as pessoas obtenham igualdade social? De acordo com Greeno, para ir além de saber o que é um certo conhecimento, e aprender a pensar com ou sobre esse conhecimento, é preciso aprender como ele é gerado e como ele ocorre em situações autênticas. Situações autênticas são situações que retratam condições de contextos reais, em que os vários aspectos do conhecimento são interligados e não podem ser separados. Através de situações autênticas (que contextualizam física e socioculturalmente um conhecimento) e de uma narrativa que conecta situações prévias com novas situações de diversas maneiras, o cinema desencadeia processos cognitivos que ampliam a capacidade de pensar com e sobre um conhecimento social. Na análise de fenômenos sociais, uma questão central a ser abordada é a relação entre as pessoas e o seu ambiente. Nessa questão, seguimos a teoria da percepção de Gibson, que trata contextos e processos psicológicos como aspectos de uma unidade holistica. Um outro aspecto da relação entre as pessoas e o seu ambiente, que é relevante para se analisar fenômenos sociais, é a atividade que as pessoas desenvolvem no seu contexto social, conforme Piaget. A abordagem da atividade também se fundamenta na teoria da atividade, de acordo com Vygotsky, segundo a qual o pensamento individual é função da atividade social. Em termos da ontologia, isso levou à necessidade de se definir unidades de análise que fossem capazes de considerar a interdependência entre o contexto social, o estado de desenvolvimento (e conhecimento) dos indivíduos ou grupos, e a atividade social. Além disso, foi preciso definir na ontologia meios para capturar a dimensão temporal dessa interdependência. Para levar em consideração essa dimensão temporal, seguimos a perspectiva transacional proposta por Altman e Rogoff. O resultado foi uma ontologia composta por cinco categorias de elementos que estão presentes na caracterização de um conhecimento sobre uma realidade social: as situações sociais, as atividades sociais, os enredamentos sociais, os processos sociais e as oportunidades sociais. No artigo essas categorias serão apresentadas e discutidas e será apresentada uma análise do filme Juízo, de Maria Augusta Ramos, para demonstrar como a ontologia permite pensar o social a partir do cinema. |
|
Bibliografia | Altman, I. & Rogoff, B. (1987). World views in psychology: trait, interactional, organismic, and transactional perspectives. In: Stokols, D. and Altman, I. (eds.), Handbook of Environmental Psychology, John Wiley, pp. 7-40.
|