ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A encenação nos documentários do projeto Vídeo nas Aldeias |
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Autor | Juliano José de Araújo |
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Resumo Expandido | Meu objetivo nesta comunicação é estudar as diferentes faces da encenação em um conjunto de seis documentários da série “Cineastas indígenas” feitos entre 2006 e 2011 por realizadores indígenas no âmbito das oficinas de formação audiovisual do projeto Vídeo nas Aldeias (VNA). Parto do pressuposto teórico de que o documentário é sempre o resultado da interação de dois processos de mise en scène: a auto-mise en scène das pessoas filmadas e a mise en scène do cineasta.
A auto-mise en scène é definida como “as diversas maneiras pelas quais o processo observado se apresenta por si mesmo ao cineasta no espaço e no tempo” (FRANCE, 1998, p. 405). A mise en scène, por sua vez, é compreendida “como um dado inevitável de qualquer realização fílmica” (FRANCE, 1998, p. 9), documental ou ficcional, visto que o cineasta coloca o universo filmado em cena a partir dos procedimentos cinematográficos, como por exemplo, os enquadramentos etc. A presença do cineasta e, sobretudo, de sua câmera, pode influenciar a auto-mise en scène das pessoas filmadas e provocar aquilo que Claudine de France (1998, p. 412) denomina de comportamentos profílmicos, isto é, “a maneira mais ou menos consciente com que as pessoas filmadas se colocam em cena, elas próprias e o seu meio, para o cineasta ou em razão da presença da câmera”. Dito de outro modo, a profilmia é entendida como “qualquer forma espontânea de comportamento ou de auto-mise en scène suscitada, nas pessoas filmadas, pela presença da câmera”, uma espécie de “ficção inerente a qualquer filme documentário que adquire formas mais ou menos agudas e identificáveis”. Sendo a profilmia um fenômeno constante e inevitável do processo de realização cinematográfica, por que não tirar proveito dela como artifício estético e criativo? É nesse sentido que Claudine de France (2005) propõe no artigo “La profilmie, une forme permanente d’artifice en documentaire” uma tipologia da profilmia e identifica diferentes modalidades da mesma, as quais acredito ser um ponto de partida interessante para analisar a forma que os comportamentos profílmicos são trabalhados pelos cineastas indígenas na encenação documentária. A autora identifica três principais tipos de profilmia: a “elementar”, que varia entre discreta e ostensiva; a “heurística”, que pode desdobrar-se em uma ficção roteirizada, reconstituição ou (re)encenação; e, por fim, a “libertadora”. Tendo em vista esse contexto teórico, proponho a análise fílmica, em uma perspectiva textual e contextual (AUMONT e MARIE, 2009), dos documentários A festa do rato (Coletivo Kisedje de Cinema, 2011), A história do monstro Khatpy (Coletivo Kisedje de Cinema, 2011), Bicicletas de Nhanderu (Ariel Ortega, 2011), Cheiro de pequi (Coletivo Kuikuro de Cinema, 2006), Depois do ovo, a guerra (Mari Corrêa e Vincent Carelli, 2008) e Mulheres guerreiras (Coletivo Kisedje de Cinema, 2011), todos do projeto VNA. De que maneira as modalidades profílmicas são trabalhadas nos filmes realizados pelos cineastas indígenas? Identifico, de maneira geral, que os documentários revelam, a partir dos comportamentos profílmicos, diferentes faces da encenação. Algumas obras privilegiam, de maneira clara, um ou outro tipo de profilmia, como a heurística e a libertadora, enquanto outras mesclam-nas livremente. É ao estudo dessas formas estéticas e criativas que me dedicarei nesta comunicação, tendo como hipótese que a encenação nesses documentários é empregada para desempenhar as funções de simulação e reflexão (NINEY, 2009). |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques e MARIE, Michel. A análise do filme. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2009.
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