ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | O Cinema do Impensável |
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Autor | felipe maciel xavier diniz |
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Resumo Expandido | Este texto prioriza a reflexão sobre um cinema, cujos movimentos nos levam para o não lugar do “lado de fora” . Um espaço onde se estabelece um novo vínculo do homem com o mundo, onde do pensamento insurge o impensável, onde do personagem insurge uma figura informe. A partir das teorias de Foucault e Deleuze sobre o pensamento do exterior e sobre cinema moderno, pretendemos discutir um cinema que se desamarra do mundo pelo mundo e expressa um murmúrio cuja presença é tomada pelo vazio. Na parte final do artigo, ensaiamos uma análise sobre o filme “O Homem das Multidões ”, relacionando suas imagens com as teorias lançadas no decorrer do texto.
As ideias lançadas por Deleuze e Foucault a respeito da experiência do fora convergem com um diálogo com Blanchot. Maurice Blanchot criou o conceito do fora amparado por uma literatura que reverberava no século XX. Mas o que teria o pensamento blanchotiano no que toca a literatura do século XX e a produção de subjetividades a ver com a ideia de um cinema moderno? A resposta imediata que chega é que ambas as experiências operam com o impensável do pensamento, que forçam o pensamento a pensar o impensável, ao mesmo tempo em que desaparecem com o sujeito. O desafio deste artigo é justamente encontrar recorrências deste ambiente, inicialmente pressuposto de uma discussão acerca da literatura, em um cinema que produz cenas, cujas imagens de alguma forma perseguem a dilaceração do sujeito. Imagens informes, de certa forma, invisíveis. Um cinema que afasta as imagens de sua função representativa, até chegar na radicalidade de se constituir como um cinema sem imagens. Podemos aprofundar tal metáfora ao adequá-la em um cinema que promove um certo esvaziamento de ações em direção ao nada. Como se a imagem fosse escavada e dela restasse apenas dispersão. Um personagem despersonalizado, uma ação sem reação. Apenas o impensável do pensamento. Um espaço desocupado, indeterminado. Encontramos neste cinema cenas, cuja mise-en-scène, quase esvaziada, expressa o preenchimento do tempo no espaço. O cinema moderno, que inaugura a era da imagem-tempo, evidencia o regime cristalino da imagem, cujo princípio se opõe ao regime orgânico, e, assim, a narrativa e o personagem libertam-se do tempo cronológico. Trata-se, portanto, de uma narrativa que liberta o tempo e os personagens habitam a imagem de uma representação direta no tempo, dando lugar a um ser ilimitado e múltiplo. Tal narrativa designa uma descontinuidade, uma quebra que não se mostra apenas como parte de um todo do filme, mas existe como autoreferência a própria imagem, ou melhor ao pensamento que está na imagem. Diferente do anunciado por um cinema clássico, onde o encadeamento gerado pelo esquema sensório motor provocava o pensamento, onde o pensamento para surgir necessitava de um choque, no cinema moderno o encontro do pensamento com a imagem se dá de outras formas. Na verdade, na esteira de Deleuze, o pensamento no cinema da imagem-tempo não é provocado, não parte da imagem, ele é imanente a ela. O Homem das Multidões é um filme que ilustra perfeitamente esta teoria, pois se insere em um cinema que desocupa as imagens das ações e as preenche com o impensável do pensamento. Os personagens encontram-se à deriva de um tempo espesso e a narrativa vaga por uma linha quase invisível, onde o que conseguimos captar é apenas dispersão. |
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Bibliografia | COMOLLI, Jean-Louis. Ver e poder. A inocência perdida: cinema, televisão, ficção, documentário. Belo Horizonte: Humanitas, 2008.
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