ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Transformers: Pós-Continuidade e Cinema de Atrações nos filmes de ação |
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Autor | Radael Rezende Rodrigues Junior |
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Resumo Expandido | O cinema nasceu como um espetáculo visual, não necessariamente narrativo ou proto-narrativo, mas sim dotado de uma linguagem diferente da linguagem narrativa que se tornaria dominante, como afirmam pesquisadores como Tom Gunning e André Gaudreault. Gunning cunhou para tanto o termo Cinema de Atrações ao referir-se aos filmes produzidos no final do século XIX e princípio do XX. As atrações, segundo ele, correspondiam ao momento de “pico do espetáculo”, aos momentos agressivos que o pontuam. Esses filmes eram portanto espetáculos muito mais próximos do circo, por exemplo, do que da literatura. Esse tipo de cinema, segundo Tom Gunning, se mostrou como “um cinema que se baseia na (...) sua habilidade de mostrar algo. Contrastando com o aspecto voyeurístico do cinema narrativo (...) esse cinema é exibicionista.” (GUNNING, 2000). André Gaudreault por sua vez lançou o termo Regime de Mostração – através do qual os filmes produzidos na virada do século XIX para o XX eram pensados de forma a funcionar com uma única cena autônoma e autossuficiente, na qual os “acontecimentos” eram mostrados ao público sem necessidade da contraparte narrativa.
Por outro lado, se considerarmos o cinema high concept hollywoodiano atual e o Cinema de Atrações, podemos expor algumas semelhanças entre esses dois períodos. Isso acontece especialmente em filmes que se configuram como o que Steven Shaviro (2011) chamou de Pós-Continuidade. Essa seria uma espécie de dissidência daquilo que David Bordwell (2002) denominou de Continuidade Intensificada. Segundo ele a narrativa e o modo de se fazer cinema em Hollywood não se alteraram desde a era dos estúdios, sofrendo apenas uma intensificação de técnicas já estabelecidas. Shaviro, contudo, afirma que a partir do século 21 alguns desses filmes apresentaram uma expansão dessas técnicas, especialmente em sequências de ação, chegando à quase ruptura da narrativa. Nos filmes de diretores como Michael Bay, por exemplo, configura-se uma situação onde a própria continuidade é quebrada e desvalorizada, ou fragmentada e reduzida à incoerência. Existe uma entrega de choques contínuos à plateia, o que acaba por superar qualquer preocupação com a narrativa. Em Transformers (Michael Bay, 2007) a história serve apenas como sutura entre os vários e breves momentos de espetáculo sensorial intenso, que em muito se aproxima daquilo que Omar Calabrese (1999) conceitua como “Neobarroco”: “a procura de formas – e a sua valorização – em que assistimos à perda da integridade, da globalidade, da sistematicidade ordenada em troca da instabilidade, da mutabilidade” (CALABRESE, 1999). O Neobarroco seria uma manifestação de uma mentalidade de época, que entranha-se no pensamento do indivíduo contemporâneo, mesmo que inconscientemente, manifestando-se em tudo que ele cria, em menor ou maior grau. Não seria, contudo, uma retomada literal do Barroco setecentista, mas uma manifestação de características paralelas que se espalha por diversas áreas do saber. Pode ser associado então às teorias científicas ou a um filme de ficção como Transformers, sendo ambos reflexos de uma orientação comum de gosto. Pretende-se então, como fio condutor desse trabalho, atrelar os conceitos de Cinema de Atrações e de Regime de Mostração ao cinema high concept contemporâneo, em especial no gênero de ação, aplicando-os às lógicas de Pós-Continuidade e do Neobarroco. Como objeto de estudo optou-se pelo filme Transformers de Michael Bay (2007). Dessa forma propõe-se um novo ponto de vista quanto a essas produções, propondo-se aqui um deslocamento na percepção que temos do cinema de Pós-Continuidade, passando a encará-lo sob a ótica do espetáculo sensorial. E, por fim, traçar paralelos com o primeiro cinema quanto ao objetivo desses filmes contemporâneos, que não se preocupam tanto em contar uma história, e sim em provocar reações no público, gerando espanto, riso, medo e outras emoções. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. Intensified Continuity: visual style in ceontemporary american film. Film Quarterly, California, v. 55, n. 3, p. 16-28, 2002. Disponível em: |