ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | VLADIMIR CARVALHO: UM CABRA DESTINADO A FILMAR. |
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Autor | José Umbelino de Sousa Pinheiro Brasil |
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Resumo Expandido | Vladimir Carvalho: um cabra destinado a filmar é uma visão panorâmica da obra cinematográfica construída a partir dos meados do século XX – Romeiros da Guia (1962) a Rock Brasília (2011) – que logo de início deve ser traduzida e observada a partir de um detalhe hiper-significativo: a negação da autoria não concedida no seminal Aruanda (Linduarte Noronha e Rucker Vieira, 1960), filme documental que é ponto de partida para o uso do conceito da estética da fome no cinema brasileiro. A não-admissão autoral a Vladimir Carvalho teve, primeiramente, uma resposta estética flahertiana, e, posteriormente, respostas endógenas “saruerianas” inventadas pelo autor/artesão.
Dessa maneira, a sua filmografia de invenção, tanto revela a condição de autor, quanto exprime a categoria de artesão. Visto dessa forma, pode-se afirmar a existência de um estado de ruptura, e ao mesmo tempo de uma fusão na dicotomia autor x artesão. Observa-se na sua filmografia uma contrapartida à condição imposta aos realizadores do cinema moderno, especificamente aos categorizados de documentaristas, e de uma equivalência na sistemática divisão entre os significados/conceitos de artesão e de autor. Averigua os espaços geopolíticos e geográficos que ocupam os cenários retratados nos seus filmes: o campo e a cidade; visto aqui como uma alusão ou referência ao ditado popular apropriado das leituras glauberianas em que vislumbrou uma fusão entre o mar e o sertão. Do mar postado em Romeiros da Guia (1962) à trilogia do sertão: A Bolandeira (1968), O País de São Saruê (1971) e Pedra da Riqueza (1975), o cineasta Vladimir reporta as desilusões e as desesperanças de personagens, pescadores e sertanejos, sem trajetos definidos no mundo. Dessa forma, a sua substância fílmica deve ser entendida como condição única de um “criador de fantasmas”, que faz a cada projeção ou re-projeção das suas películas a exposição da essência fundamental da alma humana. Entende o projeto cinematográfico estruturado por Vladimir Carvalho como um tratado equivalente aos dos pensadores da formação do povo do nordeste brasileiro, a exemplo, de Josué de Castro, Celso Furtado, Gilberto Freire, Ariano Suassuna, José Américo de Almeida, e, especialmente, José Lins do Rêgo. Enxerga nos conteúdos dos seus filmes, traços indeléveis que ajudam na compreensão da organização histórica, política e social desse universo geográfico e geopolítico do nordeste, e particularmente do homem político. Nesse sentido os seus filmes: O homem de Areia (1982) e O evangelho segundo Teotônio (1984) são paradigmáticos para a compreensão e o entendimento do universo nordestino reportado por Vladimir Carvalho. Complementa esse quadro, O Engenho de Zé Lins (2007), uma composição autobiográfica na qual o cineasta se projeta como um duplo da figura do escritor José Lins do Rêgo, descrevendo com perfeição a transposição do homem nordestino do campo a cidade, e a transfiguração do capital produtivo em massa falida da burguesia rural do nordeste do Brasil. Abre-se um leque da multifacetada obra do cineasta paraibano que fincou raízes no eixo central do planalto brasileiro, comentando a sua dedicação e a sua identificação com aqueles que migraram do várias partes do país – particularmente os nordestinos - empenhados em construir a pirâmide utópica brasileira. Exemplo marcante, confirmado no filme, Conterrâneos Velhos de Guerra (1990). Modelo único que condensa a sua forma visceral de compor o filme documentário e atesta o código genético e confirma os caracteres hereditários da existência do cinema brasileiro contemporâneo. |
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Bibliografia | CARVALHO, Vladimir. O País de São Saruê. Brasília/Rio de Janeiro: Embrafilme e UnB, 1986.
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