ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Alteridade em movimento no filme Cinema aspirinas e urubus |
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Autor | Afonso Manoel da Silva Barbosa |
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Resumo Expandido | A presente comunicação pretende examinar dados do longa-metragem Cinema aspirinas e urubus, de Marcelo Gomes, abordando a obra a partir dos conceitos de dialogismo e alteridade, e com especial atenção à construção dos personagens Johann (Peter Ketnath) e Ranulpho (João Miguel). A análise visa discutir o filme por meio da composição estética que a obra emprega para representar os conflitos entre as personalidades do nativo e do estrangeiro. Para tanto, o trabalho se propõe a debater esses procedimentos à luz do dialogismo bakhtiniano, observando a construção das experiências no âmbito subjetivo e intersubjetivo, tomando ainda o processo dialógico do ponto de vista estético na obra e a partir de seu contexto de produção.
Temos como objetivo examinar também a eloquência dos silêncios e dos não-ditos, analisando como essas experiências moldam ambas as personalidades e como são construídas cinematograficamente para gerar efeitos de sentido. Propomos o dialogismo bakhtiniano para o estudo dessas categorias e procedimentos. Compreendemos que, mesmo a relação intersubjetiva entre os personagens e a relação entre eles e o meio social – dentro da economia interna da obra –, podem ser analisadas observando-se os processos dialógicos que as envolvem. No sentido de investigarmos as construções dialógicas do filme, é possível também debater as relações e trocas estabelecidas entre Cinema aspirinas e urubus com outras obras. Vale ressaltar, por exemplo, sobretudo no início e no final do longa-metragem, a fotografia que se desdobra numa estética que nos remete ao filme Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos, cujo efeito de luz saturada intensifica a percepção do ambiente quente e seco. É possível observar esse procedimento a partir do dialogismo bakhtiniano, no qual há a compreensão de que essas relações intertextuais se desenvolvem a partir da ideia de que o texto é composto por “um ‘tecido de vozes’, ou de muitos textos ou discursos, que se entrecruzam, se completam” (BARROS, 1997, p. 34). E aqui se complementam num elo estético para a representação de um ecossistema comum a ambos os longas-metragens. Quando pensamos em alteridade, a análise procura fundamentar-se nos estudos de Robert Stam sobre o pensador russo Mikhail Bakhtin, especialmente por compreendermos que “mais do que simplesmente ‘tolerar’ a diferença, a abordagem bakhtiniana respeita-a e até a aplaude” (STAM, 2000, p. 14). Nesse sentido, a relação de Joahnn e Ranulpho está imersa nessa prerrogativa e as diferenças vão resultar em novas formas de se observar o mundo por ambos os personagens. Pretendemos também observar, em correlação com os conceitos de dialogismo e personagem, a noção de tom, para compreender, a partir do texto fílmico, o “reflexo das relações inter-humanas e de sua hierarquia social no discurso”, observando os personagens “pela atitude do locutor para com a pessoa do interlocutor (a atitude para com sua posição social, para com sua importância)” (BAKHTIN, 1997, p.396). Nesse sentido, importa-nos investigar também os dados de entonação presentes no filme. |
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Bibliografia | BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
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