ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Os caminhos que trilhei – Lucia Murat e seu cinema transnacional |
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Autor | Hadija Chalupe da Silva |
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Resumo Expandido | A obra cinematográfica só completa sua função quando é apreciada por seu público, e essa exposição possui relação com o binômio janela e território. Contudo, se os dois termos remetem a locais, fazem-no de formas muito distintas. O primeiro evoca o sentido de formato (cinema, home vídeo, TV aberta, ou assinatura); já o segundo, o político-administrativo (países, estados, cidades).
Quanto maior o número de associações, maior a probabilidade da obra recuperar o valor investido. Por isso, as cinematografias emergentes, principalmente na América Latina, vem utilizando a coprodução internacional como estratégia para o fortalecimento de seus mercados. Mas não é qualquer filme que consegue expandir sua circulação para terras estrangeiras. Por um lado, para conquistar espectadores de distintas nacionalidades é necessário que a produção possua elementos que interessem ao público, para que este possa se identificar com a obra (o que acontece através de uma situação específica contida na narrativa do filme, da participação de determinado ator ou atriz, etc.). Por outro, para atender às necessidades das diretrizes dos acordos de coprodução internacional, os diretores devem trabalhar de acordo com as “cotas” de representação cultural de cada país – ou seja, é necessário conter uma quantidade mínima, a qual varia de legislação para legislação, de equipe técnica e artística de cada parte envolvida. Só assim a obra receberá a “dupla cidadania” e poderá ser comercializada nos países coprodutores como uma obra nacional. Um dos grandes riscos que as coproduções internacionais correm é que as adaptações feitas na narrativa em busca da universalização dos temas retratados e das representações sociais nas telas resultem em uma descontextualização do filme. Definitivamente, não é isso o que ocorre nas obras da cineasta brasileira Lucia Murat produzidos através dessa modalidade. Contrariando o senso comum dos elementos que uma coprodução internacional precisa ter para conseguir grande aderência do público as obras de tal realizadora apresentam grande arraigo local. Brava gente brasileira (Lúcia Murat, Brasil/Portugal, 2000) conta as desventuras de Diogo, cartógrafo recém-chegado ao país e que fora enviado pela Coroa Portuguesa para fazer um levantamento topográfico da região. Quase dois irmãos (Lúcia Murat, Brasil/França/Uruguai, 2004) mostra as relações e os conflitos decorrentes do convívio entre presos políticos e presos comuns, encontro que impacta a realidade brasileira até hoje. Maré – nossa história de amor (Lúcia Murat, Brasil/Portugal, 2007) é um filme musical que narra a história de Analídia e Jonatha, dois moradores da favela da Maré que sonham em ser bailarinos e procuram uma ONG para ter aulas de dança. Por fim, A memória que me contam mostra o reencontro de um grupo de ex-guerrilheiros diante da iminente morte de uma de suas integrantes (Lúcia Murat, Brasil/Chile/Argentina, 2013) Dado este cenário, gostaríamos de analisar as questões simbólicas (linguagem, narrativa, construção de personagens) e produtivas (patrocínios, empresas e países envolvidos) que constituem o campo de realização das obras de Lúcia Murat. Além disso, desejamos voltar nosso olhar para as relações transnacionais, já que a diretora/produtora se estabeleceu no mercado audiovisual brasileiro, expandindo seus horizontes para além das fronteiras nacionais. |
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Bibliografia | BRITTOS, Valério da Cruz. Circulação internacional e distorções comunicacionais no capitalismo global. In: Revista de Economia Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación – Dossiê Especial Cultura e Pensamento, Vol. VII, 2005
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