ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Corpos em atrações |
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Autor | Mariana Baltar |
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Resumo Expandido | A proposta desta comunicação é pensar a dimensão das atrações como central para o campo do cinema - em especial pela sua relação atávica com o corpo convocando um certo engajamento afetivo que se coloca na ordem do sensorial e do sentimental. Entendo esse engajamento como a raiz do "maravilhamento" das imagens em movimento e também como sua potência política. Nesse sentido, refletir sobre a correlação entre o conceito de atrações (tal como iniciado por Tom Gunning) e sua sobrevivência no campo do cinema a partir de um diálogo com conceitos como o de afeto (tal como desenvolvido por Elena Del Rio) e excesso.
A concepção de Atrações tem me interessado como uma peça chave para refletir sobre as estratégias de mobilizar a atenção do espectador através de um jogo que se processa entre corpos: o corpo nas telas, o corpo da câmera e o corpo do espectador. Esse conceito foi inicialmente cunhado por Tom Gunning e André Gaudreault em dois artigos de 1986 para dar conta das características essenciais do Primeiro Cinema, mas depois será desenvolvido por Gunning para além das restrições desse marco histórico. Laurent Guido, no texto que integra a coletânea Cinema of Attractions Reloaded, lembra que "O cinema emerge em um contexto marcado pela vasta expansão do interesse pelo movimento dos corpos, no entrecruzamento de preocupações estéticas e científicas", (Rhythmic Bodies/Movies: Dance as Attraction in Early Film Culture, 2006:139). Nesse sentido, é fundamental pensar o movimento dos corpos como relacionado às preocupações da modernidade - e que se acirram e adensam no contexto do contemporâneo - fazendo com que a visibilidade desses corpos e seus movimentos, trazidos ao olhar público pelo aparato técnico, constituissem o centro dos desejos escopofílicos do espectador. A consolidação da vida moderna aponta para uma profusão de narrativas que se estruturam com base no excesso como vetor de apelos e estímulos ao universo sensório-sentimental e que encontram na predominância da visualidade um dos pilares de seu “convite às sensações”. Através desse convite, "pedagogizam" a própria experiência da vida moderna - "ensinam" através da mobilização dos corpos a ser um corpo moderno. Nesse ensinamento - que tenho identificado como uma pedagogia das sensações - o cinema (pela sua força de atração ao colocar os corpos em cena e com isso afetar nossos corpos) tem papel protagonista justamente porque consegue mobilizar o tal jogo entre os corpos a que me referi: o corpo na tela, o corpo da câmera, o corpo do espectador. Se este jogo, que se ancora na importância da visibilidade e da visualidade, é fundamental na modernidade; ele é potencializado no contexto pós-disciplinar contemporâneo atravessado pelas lógicas da sociedade do espetáculo. Recupero aqui então o conceito de Atrações para dar conta dessa faculdade do cinema de encenar e mobilizar corpos com corpos. De fazer o que Richard Dyer (1985), ao escrever sobre a eficácia política e estética da pornografia, entendeu como “re-educação dos desejos” que se dá através da “produção de um saber corporal do corpo”. Esta visão é corroborada por Linda Williams ao pensar a pornografia - entre outros gêneros, como o melodrama e o horror, e o musical, eu acrescentaria - como uma tensão entre o fio do enredo narrativo e as atrações, tensão esta que requalifica nosso olhar para ambas as esferas. Essa "requalificação" abre caminho para o questionamento (político) da própria narrativa. Assim as Atrações respondem por uma força perturbadora da organização do fio narrativo. Scott Bukatman (2006), argumenta por uma aproximação entre o conceito de Gunning e o de prazer visual de Laura Mulvey. Seguindo tais reflexões abertas em Gunning e Bukatman, procurerei pensar a permanência e potencialidade política de uma lógica de atrações no cinema contemporâneo, sobretudo aquele que coloca em cena políticas de gênero em um franco diálogo com o campo do pornográfico, tal como em Homem ao Banho (Christophe Honoré, 2010) |
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Bibliografia | BALTAR, M. Tessituras do excesso. In. Revista Significação, ano 39, nº38, 2012.
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