ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Corpo, experiência e sensorialidade na teoria contemporânea do cinema |
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Autor | Erly Milton Vieira Junior |
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Resumo Expandido | Nos últimos 25 anos, um relevante conjunto de publicações no campo da teoria do cinema tem centrado seu foco na dimensão sensória do cinema, buscando investigar os diversos modos pelos quais o corpo do espectador é convocado a participar da experiência que se instaura ao se assistir a um filme. Em comum, esses trabalhos entendem esse contrato sensório como parte importante do processo espectatorial, conferindo-lhe, no mínimo, importância igual às usualmente dadas às estratégias de identificação emocional ou às operações mentais/racionais inerentes aos processos de produção de significados. Acreditamos que tais pesquisas constituem uma vertente específica no campo das teorias audiovisuais contemporâneas, centrada na relação entre cinema e sensorialidade, e que se juntaria a outras correntes teóricas (os estudos culturais, os de recepção, o cognitivismo, a noção de “observador moderno” proposta por Crary), num amplo movimento, iniciado em meados da década de 70, que elege o espectador como uma das instâncias centrais para os estudos fílmicos.
Não que a teoria cinematográfica nunca tivesse se preocupado com o sensório, muito pelo contrário: como nos lembram Elsaesser e Hagener, desde os pioneiros da década de 20 (como a “fotogenia” de Epstein e os “choques perceptivos” da montagem, tão louvados pelos teóricos soviéticos), os efeitos do filme na percepção do espectador já eram uma variável considerável, embora não tivessem o caráter de centralidade que alguns autores contemporâneos lhe conferem. Muitos dos estudos sobre sensorialidade surgidos a partir dos anos 90 vêm, ao menos inicialmente, de uma necessidade de se pensar alternativas a paradigmas então hegemônicos, que concentravam os estudos de cinema nos processos de produção de sentido (como a semiótica e a psicanálise) ou nos contextos culturais dos quais o espectador é originário. Em lugar disso, buscava-se aqui mergulhar na fisicalidade dessa experiência, investigar como os órgãos do sentido são ativados ao se assistir a um filme (num esforço teórico de desconstrução de um certo “ocularcentrismo”) e perceber como corpo e filme, muitas vezes, podem ser indissociáveis nesse processo, que propõe uma tripla articulação entre os corpos filmados, o corpo da câmera e o do espectador – o cinematic body de que nos fala Steven Shaviro. Duas são as matrizes centrais desta vertente – uma delas é a abordagem fenomenológica, que encontra em Vivian Sobchack sua principal representante, ao afirmar que há uma forte componente corporal nos processos cognitivos elaborados pelo espectador, e que as duas dimensões se retroalimentam constantemente. A segunda matriz vem do pós-estruturalismo, como a abordagem foucaultiana do corpo (ponto de partida para Linda Williams e sua análise dos gêneros cinematográficos que estimulam a produção de excesso nos corpos dos espectadores) e o conceito deleuziano de “espaço háptico”, que será a base para os estudos de Laura Marks e Jennifer Barker acerca de uma visualidade calcada na emulação tátil do olhar. Outra herança deleuziana, a partir da concepção de afeto proposta por Spinoza, vem através do “corpo sem órgãos”, inspiração central para o “corpo cinemático” proposto por Shaviro, bem como para suas atualizações dentro do cinema do século XXI – os “afetos pós-cinemáticos”, em especial a mecânica de pós-continuidade que o autor acredita ser a mola motriz narrativa de muitos dos atuais blockbusters hollywoodianos. A proposta desta comunicação, portanto, é buscar as aproximações e diferenças que marcam o pensamento dos teóricos acima citados, de modo a promover uma investigação sobre o atual status quo do campo dos estudos que envolvem cinema e sensorialidade. A partir daí, pretende-se pensar como eles podem contribuir para o debate sobre a espectatorialidade, oferecendo outros pontos de vista para questões que nem sempre são contempladas por outras correntes teóricas contemporâneas que também elegeram o espectador como instância central de sua abordagem. |
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Bibliografia | BARKER, Jennifer. The Tactile Eye: Touch and the cinematic experience. Berkeley: University of California, 2009.
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