ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | 1963, o ano de Vladimir na Bahia |
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Autor | Marise Berta de Souza |
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Resumo Expandido | “1963, o ano de Vladimir na Bahia” pretende investigar os laços que o cineasta estabeleceu na Bahia, na cidade de Salvador, como espaço de vivência e experimentação, ao fixar residência na cidade neste ano.
Após finalizar “Romeiros da Guia”, o jovem cineasta sentiu a necessidade de mudança. Havia chegado à conclusão que a Paraíba não dava mais conta dos seus planos e intenções cinematográficas. Atraído pela reverberação da presença de Glauber Rocha no panorama cinematográfico e seguindo o rastro deixado pelo Ciclo Baiano de Cinema e seus formuladores - Walter da Silveira, com o seu Clube de Cinema da Bahia -, Roberto Pires, Rex Schindler e outros que ajudaram a delinear a história do Cinema Baiano, Vladimir, servidor do IPASE, solicita a sua transferência para Salvador. Não se desconsidera que a Bahia, naquele momento, ocupava uma posição estratégica no Nordeste e no Brasil e, em chamada pública, convocava a todos a viver o seu ambiente mítico, criativo e instigador de novas experiências. O final da década de 1940 e o início da de 1960 foi um período historicamente curto, mas com alta concentração de proposições que repercutiram na vida cultural do país. Cunhado como “Renascença Baiana” por Paulo Emílio Salles Gomes, o movimento cultural na Bahia respondia com particularidade e densidade culturais ao impulso modernizador alavancado pelo desenvolvimentismo de Juscelino Kubitschek. Neste período o estado recebeu a visita, com duração de estadia variada, de perfis cinematográficos ilustres. Aqui estiveram Nelson Pereira dos Santos, Marcel Camus, Georges Sadoul e Roberto Rossellini, entre outros, imbuídos em conhecer e vivenciar essa região geocultural que se impunha para se abrir a um significativo fluxo internacional de trocas estético-intelectuais e ainda se lançar para intervir nos movimentos da modernidade e da ruptura artística, a exemplo do Cinema Novo e da Tropicália. Aqueles foram tempos de uma ação cultural inventiva e catalisadora de singularidades que contou com o protagonismo da Universidade da Bahia, simbolizada e encarnada na figura do seu reitor-fundador Edgard Santos que pavimentou a estrada de prestígio da cultura baiana, oxigenando-a ao implementar o cosmopolitismo na Universidade. Edgard Santos fez da Universidade da Bahia um polo renovador do conhecimento, estabelece o lugar da cultura no seu projeto, valoriza a criação de novas formas culturais e vislumbra a sua repercussão na vida social, modificando-a. Atraído por essa atmosfera de intensa dinâmica cultural, Vladimir desloca-se para a Bahia. Em Salvador, “o clima cultural e a visão dos artistas mais abertos para o mundo sacudiram o provincianismo acanhado de quem só pensava em fazer cinema”, afirma o cineasta na sua biografia, escrita por Carlos Alberto Mattos. E continua na descrição do clima cultural e humano que a cidade propiciava, “Orlando Senna foi meu anjo de guarda nas Cidades Alta e Baixa. Na Faculdade de Filosofia, onde concluí meu curso, fiz amizade com Caetano Veloso, Carlos Nelson Coutinho, o colunista social Silvio Lamenha (...) Alguns professores abriram novas avenidas no meu conhecimento (...)Padre Pinheiro, fumante inveterado, apreciava a música a ponto de, vez por outra, fechar a porta da sala de aula e pedir ao corpulento Lamenha para cantar com seu falsete que lembrava Dalva de Oliveira. Caetano, caderno de letras de música sempre à mão, era o que mais se deliciava com – e provavelmente assimilava –as paródias do Lamenha. Era o tropicalismo a caminho”. Busca-se, sobretudo, nesse trabalho enfocar a relação de troca estabelecida entre Vladimir e a cultura baiana, verificando-se em que medida o cineasta alimentou e foi alimentado pelo ambiente sociocultural vivenciado. Propõe-se percorrer e descortinar a memória afetiva do cineasta travada com a Bahia e seus personagens durante a sua permanência no estado. |
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Bibliografia | CAETANO, Maria do Rosário. Cineastas Latino-americanos: entrevistas e filmes. São Paulo: Estação Liberdade, 1997.
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