ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Fogo infinito – as jornadas de junho e suas imagens ardentes. |
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Autor | Roberto Robalinho Lima |
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Resumo Expandido | Em junho de 2013 o Brasil foi tomado por gigantescos protestos de ruas. A faísca que incendiou a multidão foi a mobilidade urbana e o preço das passagens de ônibus. Mas logo, muitos outros desejos afloraram e um grito se fazia ecoar – é preciso inventar novas cidades e novas formas de ser na cidade. Houve uma série de invenções políticas durante os protestos, invenções que são também novas formas de subjetivação e que tem sua existência potencializada e prolongada pelas imagens.
As jornadas produziram uma relação complexa entre gestos políticos e registros de imagem, ou seja, entre dois tipos de gestos – os gestos políticos que são produzidos pela multidão na rua, e o gesto de registrar em imagens estes gestos políticos. A proposta desta comunicação é pensar sobre a relação entre gesto político e produção de imagem no contexto das jornadas de junho. Que conhecimento estas imagens podem produzir? Que sujeitos e espaços são disputados e elaborados a partir desta relação? Quais fissuras e disjunções, de sujeitos e cidades, estas imagens dão a ver? Para tal, irá tratar de um estudo de caso, quando durante um protesto um cinegrafista de uma rede de televisão morreu atingido por um morteiro. As fotografias da cabeça do cinegrafista pegando fogo ganharam o prêmio Esso de fotojornalismo de 2014; na sequência de imagens, como a série de fotogramas de um rolo de filme, as chamas queimam sem cessar. Um conceito fundamental para esta análise é o de Imagens ardentes de Didi-Huberman, no qual parte da hipótese de que: “as imagens ardem em contato com o real” (Didi-Huberman, 212: 208), no sentido paradoxal da afirmação, de que há ao mesmo tempo um vínculo inegável das imagens com um real, e também uma relação controversa da imagem com o real, que muitas vezes a consome por completo em chamas. Por outro lado, há cada vez mais a proliferação de um mundo de imagens, ou de uma apreensão de mundo que se dá a partir das imagens de todos os tipos e natureza, mediando todas as esferas de nossas vidas – técnica, política, histórica, subjetiva – a imagem: “Nunca mostrou tantas verdades tão cruas; nunca, sem dúvida, nos mentiu tanto solicitando nossa credulidade; nunca proliferou tanto e nunca sofreu tanta censura e destruição.” (Didi-Huberman, 2012: 209). Podemos dizer a partir de Didi-Huberman que as imagens de junho ardem. Nas jornadas não há a imagem única, justa, capaz de redenção, mas as imagens múltiplas, lacunares, disjuntivas, postas em rede, e que sempre se incendeiam em contato com o real. Proponho, a partir do acontecimento trágico, da morte de um cinegrafista – da morte da imagem na imagem – problematizar a relação entre imagem e política para pensar como acessar essa produção imagética e que mundos são inventados por ela, quais são as disputas, sujeitos, cidades, gestos, que ardem nas inúmeras tela. Trata-se de pensar como as imagens, mesmo heterogêneas, fugidias, dispersas na rede, possuem uma natureza dupla: ao mesmo tempo em que agenciam a produção política dos protestos, produzem o próprio acontecimento junto com a multidão nas ruas. O que seria dizer que não há uma fronteira nítida entre política e imagem. Falar de ação política nesse caso é falar de imagem. Logo, pensar o acontecimento passa necessariamente por pensar suas imagens e seus múltiplos agenciamentos. |
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Bibliografia | DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo, Editora 34, 2008.
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