ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Lulu no Moulin |
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Autor | Carlos Roberto de Souza |
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Resumo Expandido | A comunicação tratará de um momento muito específico da plural carreira de Luiz de Barros, ou seja de agosto de 1928 a agosto do ano seguinte. Essas datas marcam: a abertura em São Paulo do “Moulin Bleu”, dirigido por ele; e a véspera do lançamento de Acabaram-se os otários, primeiro filme sonoro brasileiro de longa metragem (para os padrões da época), também dirigido por ele.
Acredito que o filme nasceu no e do moinho e interessa-me verificar exatamente essa relação. A começar pelo específico geográfico: o “Moulin Bleu” ficava no mesmo prédio do cinema Santa Helena, na praça da Sé, em São Paulo. Esse cinema era explorado pelas Empresas Reunidas, com quem Luiz de Barros assinou o contrato que lhe permitiu a realização da fita. Por outro lado, o elenco que trabalha em Acabaram-se os otários era composto pelos mesmos atores, dançarinos e cantores que se apresentava no moinho. Mais do que isso, Tom Bill – a principal atração do “Moulin Bleu”, juntamente com Genésio Arruda e Vincenzo Caiaffa – foi colaborador técnico e mecânico do filme, além de sócio da produtora Synchrocinex. Inspirado no “Moulin Rouge” de Paris, criado em 1889, o “Moulin Bleu” foi a primeira casa do gênero instalada no Brasil. Era uma casa de espetáculos de variedades, com números cômicos, cantores, coristas, algumas se apresentando em números de nus artísticos (proibidos para menores e senhoritas). Tudo ao preço acessível de 3 mil réis. O “Moulin Bleu” marcou época em São Paulo, com prestígio popular e boêmio. Luiz de Barros consagrou-se, como em diversos momentos de sua vida, como criador de espetáculos, tornando-se uma das figuras mais populares do meio teatral paulista. Envolveu-se na criação de outros locais de diversão – como o “Moulin d’Or” – e outros tipos de espetáculo – a “Farândola”, em sociedade com Jaime Costa – além de ser responsável pela decoração do Odeon paulistano para os festejos carnavalescos. No período abrangido nesta comunicação, Lulu, Tom Bill e Genésio promoveram também a “Padaria Espiritual”, que pouco tinha de espiritual, realizando, nos porões do edifício Santa Helena, reuniões de jornalistas e boêmios em geral com improvisações cômicas e de outra natureza, provavelmente impróprios para apresentação no próprio “Moulin Bleu”. Preocupa-me, contudo, sobretudo a repercussão do moinho no entretenimento paulistano no período e o cardápio de atrações oferecidas no palco. Acredito que a diversidade de gêneros musicais apresentados pelos cantores, e os números cômicos apresentados possam ser úteis para a compreensão do panorama cultural popular daquele momento. O sucesso de Tom Bill junto aos órgãos de imprensa publicados em italiano, em São Paulo, é bastante curioso. O destaque que merece em páginas de Il Pasquino Coloniale, por exemplo, sugere que seu humor pode eventualmente ser aproximado do Juó Bananere, de enorme poder de comunicação num período anterior ao abordado nesta comunicação. Embora Acabaram-se os otários continue sendo um filme desaparecido, a comunicação procurará aproximações entre o humor apresentado no filme com o representado no “Moulin Bleu”. |
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Bibliografia | Barros, Luiz de. Minhas memórias de cineasta. Rio de Janeiro: Artenova e Embrafilme, 1978.
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