ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | O efeito retórico dos letreiros de Roberto Miller nos filmes nacionais |
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Autor | Fernando Aparecido Ferreira |
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Resumo Expandido | Ao lado de Lygia Pape, o animador Roberto Miller pode ser considerado o mais importante designer de apresentação de créditos do cinema brasileiro dos anos 1960. Ainda que ambos tenham sido fortemente influenciados pelo design modernista, a abordagem de Pape é mais purista, levando para filmes como “Vidas Secas” (1963) e “Maioria Absoluta” (1964) uma proposta de letreiros objetivos, sóbrios e fundamentalmente informativos. Já Miller pensou o letreiro de forma mais sintonizada com os trabalhos dos title designers norte-americanos, especialmente Saul Bass, celebrado pelos letreiros que fez para filmes de Preminger e Hitchcock nos anos 1950, explorando essas sequências de forma a agregar valor e significados ao discurso fílmico, contribuindo para aumentar a adesão dos espectadores à narrativa. Pupilo do célebre animador Norman McLaren, do National Film Board of Canada, Miller foi o mais importante animador experimental brasileiro, tendo produzido mais de 60 curtas-metragens, muitos deles premiados no Brasil e em vários festivais internacionais. No cinema comercial, o animador atuou enquanto criador de apresentações de créditos, chamando atenção para essa atividade no Brasil, sendo nos anos 1960 (ao que tudo indica), o mais atuante profissional desse segmento no país. Nesse período, fez letreiros para cerca de 20 filmes, entre curtas e longas-metragens. Assim como Bass, Miller foi um profissional eclético, tendo explorado diversos recursos visuais em seus letreiros (tipografia sobre a ação narrativa, animação de recortes, animação de fotografias, cartões filmados, sequências live action, etc.), criando sequências modernas e instigantes, tanto para produções populares, voltadas para a grande massa, como para filmes mais sofisticados, ousados nas temáticas e/ou experimentais na linguagem. No primeiro grupo, encontram-se filmes como "Lampião, rei do cangaço" (1965), "A madona de cedro" (1968) e "Adultério à brasileira" (1969), e produções estreladas por Mazzaropi, como “Casinha Pequenina” (1963) e “Meu Japão brasileiro” (1965). Já no segundo grupo encontram-se produções de Walter Hugo Khouri, como "A ilha" (1963), “As amorosas” (1968) e "O palácio dos anjos" (1970) e filmes como "O beijo" (1965) e “O caso dos irmãos Naves” (1967). Abordados neste trabalho pelo viés da teoria retórica, os letreiros de Miller serão considerados como o exórdio dos filmes para os quais foram feitos. Por exórdio entendemos aqui como a parte inicial de um discurso, aquela que promove um primeiro contato entre o orador e seu auditório (os diretores/produtores e os seus espectadores, no caso do nosso objeto de estudo). Na teoria retórica, o exórdio compõe uma das fases da dispositio (disposição), etapa do processo argumentativo na qual os argumentos são organizados e distribuídos de forma racional, visando a adesão de um auditório. De acordo com Tringalli (1988), o exórdio tem por objetivo, em relação ao auditório: a obtenção da benevolência, tornando-os favoráveis ao discurso; a obtenção da atenção, evitando a dispersão e os “ruídos”; a obtenção da docilidade, tornando-os sujeitos à influência e a orientação do orador. Percebe-se que, certamente influenciado pelo trabalho de Bass, que considerava o letreiro como um prólogo, um momento para conduzir o espectador para a imersão na diegese fílmica, Miller elabora seus letreiros com o mesmo objetivo, criando no espectador uma predisposição emocional e psicológica para o que se seguirá. Neste trabalho, nos deteremos especialmente na análise dos letreiros criados pelo animador para “As amorosas”, "O palácio dos anjos", "O beijo" e “O caso dos irmãos Naves”, revelando como essas sequências funcionam favoravelmente como um exórdio para esses discursos fílmicos, contribuindo para o processo de adesão dos espectadores à diegese. Além de Tringalli, tomamos como referencial teórico outros estudiosos da retórica, como Aristóteles, Perelman e Olbrechts-Tyteca, associando-os a autores da comunicação visual e audiovisual. |
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Bibliografia | ARISTÓTELES. Retórica. Tradução de Manuel Alexandre Júnior, Paulo Farmhouse Alberto e Abel dos Nascimento Pena. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.
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