ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Montadora-Editora de som: A atuação de Virgínia Flôres nos filmes de Julio Bressane |
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Autor | Kira Santos Pereira |
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Resumo Expandido | Há casos, bastante particulares, em que a figura do montador e do editor de som se fundem, assim como ocorreu nos trabalhos mais pungentes do propositor do termo Sound Design, Walter Murch. Virgínia Flôres acumulou estas duas funções em alguns filmes, entre eles quatro obras de Julio Bressane, todos com propostas sonoras pouco convencionais. Nas palavras do próprio diretor [1] , seus filmes promovem uma desautomatização do som. O termo surge também em um comentário do diretor sobre Histoires du Cinema, de Godard: “O som separado da imagem, e combinado a ela, em trânsito livre no imaginário, na vida, desautomatiza a visão, a representação, os sentidos, indo abalar todo corpo sensível” (Bressane, 2011) Os procedimentos de montagem que o diretor denomina como “desautomatização” podem ser aproximados ao que Flôres se refere como “imagens acústicas que remetem a outras esferas, para além do visto e do escutado”, “um procedimento radical de separação entre imagem visual e imagem sonora, que cria entre as duas imagens um intervalo, uma fenda aberta, pronta para ser preenchida pelo pensamento.” (Flôres, 2013) [2] É o contraponto que Eisenstein propôs em 1928, ou “O que é para o olho não deve ter duplo emprego com o que é para o ouvido.” Que Bresson apregoa em suas Notas sobre o Cinematógrafo (ambos autores citados pelo diretor como referência). Focaremos nossa análise principalmente em Dias de Nietzsche em Turim, filme que não contou com gravação de som direto e teve seu som todo construído na pós produção, e recorreremos eventualmente a estudos sobre Miramar, Filme de Amor e São Jerônimo. Para além da negação da mimese entre imagem e som, estes filmes trabalham com minúcia as texturas sonoras, seu ritmo, sua significação fora do universo fílmico e a relação com as imagens montadas, gerando sempre novos significados e sensações a partir da junção som-imagem.
A comunicação buscará compreender como se dá o processo criativo do som dentro do percurso criativo destas obras tão particulares. Bressane afirma que “Essa sonoridade você não faz depois, ao contrário, você faz antes com bastante antecedência. Então, a sonoridade da imagem sugere a imagem. Há uma genese assim.” [3] , o que sugere que muito já estaria planejado no roteiro, antes da filmagem. Ao mesmo tempo, segundo Flôres, Bressane não costuma ter roteiros convencionais para seus filmes, e que muitas dessas relações construídas entre som e imagem se deram na pós-produção, foram planejadas a partir de conversas entre diretor e montadora durante a etapa da montagem [4]. Buscaremos compreender também como se deu, na prática, esta construção, pois tanto em Miramar quanto em Dias de Nietszche a imagem e o texto foram montados em moviola, mas os demais sons só vieram depois, em edição digital (o que para a época em que foi montado Dias de Nietszche já era procedimeto menos usual). A montadora então teve que planejar exercendo sua imaginação para inferir a duração ideal dos planos relativos aos sons que entrariam em etapa posterior, o que já difere de procedimentos adotados por exemplo pelo montador Daniel Resende ou pelo diretor/montador Kleber Mendonça, que preferem já inserir o som - mais próximo que conseguem – na própria sessão de montagem. Atualmente Flôres monta todos os seus trabalhos em estações digitais, mas afirma que nem sempre sente a necessidade de posicionar o arquivo sonoro na pista de montagem, muitas vezes apenas planejando-imaginando para inseri-lo apenas na edição de som. O presente trabalho é parte da pesquisa de doutorado que busca compreender a diversidade dos processos de criação de som nos filmes brasileiros contemporâneos, focando na etapa da montagem. ____ [1] Em entrevista à Virgínia Flôres publicada na Revista Cine Cachoeira [2] Tese de doutorado de Flôres, publicada no mesmo ano [3]Excerto da mesma entrevista na Revista Cine Cachoeira em 20 [4] Entrevista de Flôres à pesquisadora em março de 2015 |
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Bibliografia | BRESSON, Robert. Notas sobre o cinematógrafo. São Paulo: Iluminuras, 2005
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