ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Poesia, naturalismo e alegorias no cinema brasileiro contemporâneo |
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Autor | Iomana Rocha de Araújo Silva |
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Resumo Expandido | No filme “Esse amor que nos consome” (Allan Ribeiro, 2012) é possível observar, no que diz respeito à direção de arte, elementos vivos e pulsantes, que evocam desejos e transcendem a realidade representada, além de fortes metáforas visuais. O filme também constrói sentidos por meio da relação entre os corpos e os cenários, como pode ser visto no contraste entre os planos de dentro do sobrado, que chapam a composição, pressionando os corpos no espaço, enquanto que nas cenas externas os corpos se expandem, tomando as paisagens da cidade em uma poética interação. Em “Batguano” (Tavinho Teixeira, 2014), filme em que a narrativa se mostra praticamente escassa, se configurando por meio de scathes que ligam as performances dos dois atores, Batman e Robin, os objetos e demais elementos visuais utilizados pela direção de arte se configuram como potentes alegorias que reforçam o universo nostálgico e decadente, trazendo poesia às imagens. Em “Brasil S.A” (Marcelo Pedroso, 2014), a direção de arte se utiliza de recursos plásticos metafóricos para reforçar o discurso crítico próprio do filme. Observa-se na coreografia de tratores e máquinas pesadas, no embate do corpo com o espaço e os objetos, no desfile de automóveis e navios cargueiros, a presença de elementos que satirizam por meio do encantamento e do espetáculo visual. Nestes filmes - pertencentes a uma produção do cinema independente contemporâneo brasileiro, chamada também de novíssimo cinema brasileiro, que vem se destacando por sua linguagem heterogênea e inovadora em termos estéticos e formais - é visível uma tendência da exploração do acaso e de elementos naturalistas. A produção deste cinema contemporâneo se dá de forma mais fluida, sem seguir rigidamente manuais ou regras, o modus operandi e a própria linguagem se reconfiguram e, de certo modo, se reinventam. É possível notar nestas produções certa "artesanalização" do fazer cinematográfico, uma maior permissibilidade da “errância” e da naturalidade das imagens, e isso repercute diretamente na direção de arte destes filmes. Assim, essa produção experimental contemporânea do cinema brasileiro se configuraria como uma resistência através da criação de novas formas de produção, mais independentes e horizontalizadas, que se firmam como alternativas ao modelo de produção tradicional do audiovisual. Trata-se de uma contra resposta ao cinema mainstream e às imagens artificializadas e artificializantes dos meios de massa, que se dá por meio da valorização da sensorialidade e da potencialidade das imagens em movimento. Diante disso, analisando aspectos que seriam próprios da direção de arte, como objetos, cores, figurinos, adereços, busca-se observar nestes filmes como se dá a utilização inventiva e poética de elementos visuais simples, naturalistas, “gambiarrísticos”, com forte poder alegórico e simbólico, bem como enfatizar o poder expressivo e catártico dos espaços cênicos e das paisagens. Acredita-se que estes recursos visuais colaborariam na experimentação de linguagens e na criação de imagens que afetam e questionam. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. A Estética do filme. São Paulo, Campinas, São Paulo: Editora Papirus, 1995.
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