ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Amor, plástico e barulho ou a autonomia feminina na cultura de consumo |
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Autor | Natália Lopes Wanderley |
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Resumo Expandido | O trabalho analisa o primeiro longa-metragem de ficção da cineasta pernambucana Renata Pinheiro, premiado em festivais no mundo e lançado nos cinemas em janeiro de 2015, também o primeiro longa-metragem de ficção dirigido por uma mulher em Pernambuco: o filme “Amor, Plástico e Barulho” (2013). Tal obra cinematográfica será abordada sob a perspectiva teórica do cinema mundial contemporâneo, ao compreender que o cinema produzido nesse estado faz parte de um “pico de criação” periférico mundial (Lúcia Nagib). Assim, contribui de forma criativa para o contorno de conflitos existentes na sociedade brasileira e em especial no Nordeste do país.
A argumentação irá utilizar a moldura teórica multiculturalista pluricêntrica (Ella Shohat e Robert Stam) para abordar a representação da autonomia feminina dentro da cultura nordestina contemporânea a partir da narrativa fílmica. Nesta ocorre a subversão de uma fábula da branquitude patriarcal (“Branca De Neve e os sete anões”) para dar visibilidade às mulheres da cena musical brega e às “culturas de consumo e de corpo” que envolvem as periferias da Grande Recife. Se no capitalismo tardio, “o consumo tornou-se a nova hegemonia, estabelecendo novos processos de valoração e inscrição de hierarquias sociais na cultura de grupos formadores de uma sociedade, fundamentadas na capacidade de os indivíduos serem consumidores” é o corpo feminino que mais serve como objeto de barganhas, e consequentemente de violência sexual, no cerne da hegemonia patriarcal. Assim, o Brega Pop recifense, gênero e movimento musical retratado no filme e cujas duas personagens protagonistas são representantes, torna-se um exemplo local de produção e consumo cultural: "O Brega Pop é um estilo nascido nos bairros pobres das grandes cidades, e que por muitos anos existiu exclusivamente nessas periferias, onde se encontravam seus públicos, seus músicos e os espaços onde ele se expressava. Para manter-se, durante muitos anos, dependeu exclusivamente de um sistema paralelo de produção e divulgação: o comercio de CD`s piratas nos vendedores ambulantes, as casas noturnas suburbanas, as aparelhagens. Mesmo quando atinge o sucesso e sai dos suburbios, o brega ainda mantém forte ligação com esse sistema alternativo de produção e consumo cultural".(FONTANELLA) As performances dos “sujeitos” (Judith Butler) e as relações de poder (Pierre Bourdieu) eminentes a uma classe social urbana de baixa renda, apropriadas pelo cinema, no caso do filme “Amor, Plástico e Barulho”, também refletem a apropriação de signos da cultura brega por classes sociais e intelectuais ligadas à cultura hegemônica. A estratégia da cineasta propõe dar visibilidade às fronteiras da autonomia feminina no centro de uma normatividade patriarcal. Entendendo autonomia feminina como o poder de decisão das mulheres sobre suas vidas e corpos, assim como as condições de influenciar os acontecimentos em sua comunidade e seu país, através inclusive de direitos assegurados pelo Estado. Além disso, destaca a fortuna de um hibridismo cinematográfico que permite a aproximação e interlocução cultural entre diferentes agentes. Isto porque, habitando em entre-lugares, articulação entre diferentes culturas que forma “figuras complexas, de diferença e identidade, passado e presente, interior e exterior” (HOMMI BARBA), Renata parece apostar na “vantagem epistemológica” daqueles que forçados pelas circunstancias históricas a negociar com as margens e o centro, adquirem uma “consciência dupla”, estariam melhor situados para “desconstruir” os discursos dominantes. |
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Bibliografia | BOURDIEU, Pierre. A Distinção: crítica social do julgamento; tradução-Daniela Kern; Guilherme J.F.Teixeira. 2ed. Rev. Porto Alegre, RS: Zouk, 2011.
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