ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A ressonância das imagens nos filmes das Revoluções Árabes |
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Autor | KENIA CARDOSO VILACA DE FREITAS |
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Resumo Expandido | Nesta apresentação nós abordaremos três filmes que tratam dos acontecimentos ressonantes das revoluções nos países árabes, a saber: Place Tahrir: Liberation Square, The Square, The Uprising. A onda de levantes e protestos na região iniciou-se no final de 2010 na Tunísia e desde então ressoou com rapidez para a Líbia, o Egito, a Argélia, o Iêmen, o Marrocos, o Bahrein, a Síria, a Jordânia e o Omã, atingindo cada local com intensidades diferentes.
Entendemos por ressonância a intensificação dos afetos produzidos pela vibração da multidão encontrado-se nas ruas. Assim, a revolução popular é o local em que essa intensificação atingiria o seu maior grau de efetuação, produzindo uma ressonância que possibilita a abertura para a criação de novas sociedades e formas de existir. Essa ressonâncias das ruas é transmitida também pelas imagens produzidas pela multidão nos eventos. Por isso, acreditamos que é necessário analisar os acontecimentos insurgentes para além das suas consequências fatuais, levando em consideração também o seu legado ressonante (a criação e intensificação de afetos da multidão). Para além da sua efetivação, os acontecimentos também são forças intempestivas que trazem consigo a criação do novo e processos de descontinuidades. Ainda que seus desdobramentos sejam ambíguos política e economicamente, a Revolução Árabe marca o surgimento de novas perspectivas por meio da manifestação popular transformando um cenário que parecia inalterável por algumas décadas. E não podemos esquecer que a ressonância desses protestos iniciaram globalmente um novo ciclo de manifestações. Embora esses três filmes abordem a Revolução Árabe, eles partem de pontos diferentes desde a sua concepção temática. Em Tahrir: Revolution Square a insurgência do Egito é abordada de forma cronológica e intensa (com o diretor acampando junto com os manifestantes) no limite de um pouco menos de duas semanas entre janeiro e fevereiro de 2011. O documentário estabelece-se, dessa forma, no nó ressonante da revolução, a praça Tahrir, registrando as experiências intensas de convivência e luta da multidão naqueles dias. O filme se encerra na manhã seguinte da derrubada de Mubarak e fixa-se exclusivamente na reverberação da multidão ocupando a praça nesses dias. A partir do diretor como um personagem oculto (a pessoa que carrega a câmera) e alguns manifestantes como pontos de referência, o documentário elege seu ponto de vista para a revolução daqueles dias. Já em The Square a Revolução no Egito é abordada a partir desse ponto (a ocupação da praça e a derrubada do governo de Mubarak) e se desdobra em uma série de eventos políticos que o sucedem – incluindo a pressão para a realização de eleições e, posteriormente, novas manifestações para a retirada do presidente eleito. O filme segue os eventos cronologicamente, mas a sua abordagem por estações inclui os dois anos e meio que sucedem o início da revolução. Assim, há uma intensidade menor da ressonância da multidão nos eventos a partir dessa dilatação do tempo de filmagem. Ao mesmo tempo, esses eventos se multiplicam em uma infinidade de afetos diferentes dos personagens ao longo dos meses. Os muitos encontros entre os protagonistas, muitas vezes em situações criadas exclusivamente para o filme, mostram a potência dos laços afetivos criada entre aqueles ativistas. The Uprising por não vai tratar de uma revolução existente, mas de uma criada no filme a partir das imagens das insurreições reais que ocorreram nos países árabes no início de 2011. Enquanto a estratégia de montagem preserva um grande resíduo da ressonância dos vídeos-acontecimentos que compõem o material de arquivo, o acontecimento ressonante que o filme constrói na narrativa é puro devir. O filme não possui personagens específicos, mas uma infinidade de manifestantes anônimos produtores de imagens amadoras. |
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Bibliografia | BEASLEY-MURRAY, J. Posthegemony: Political Theory and Latin America. Milwakee: University of Minnesota Press, 2010.
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