ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Impotência, silêncio e água em Barbara e Yella de Christian Petzold |
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Autor | Janaina Cordeiro Freire Walter |
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Resumo Expandido | O cinema alemão contemporâneo encontra na Escola de Berlim uma de suas mais importantes expressões. Entretanto, a despeito do que sugere a denominação, não se trata propriamente de um movimento estético, a exemplo do Expressionismo ou do Novo Cinema Alemão, que tiveram lugar, respectivamente, nos anos 20/30 e 60 do século XX.
Na Escola de Berlim não houve manifesto fundador, tampouco se pode identificar um conjunto coeso de traços formais que pudessem ser compreendidos como elementos definidores das obras. Dentro dessa generosa rubrica, cabem gêneros distintos, temáticas igualmente diversas, abordagens mais orientadas na direção do destaque de aspectos dramatúrgicos, ou, por outro lado, relativos à composição das imagens, por exemplo. Ainda assim, há algo que parece unir tão diferentes realizadores e obras e arriscamos afirmar que tal ponto de intersecção seja exatamente a partilha de uma mesma vivência da realidade alemã pós-reunificação. Significativa parte dos filmes, vinculados de alguma maneira à Escola de Berlim, foram feitos a partir da primeira década do novo milênio, quando o leste e o oeste da Alemanha esforçavam-se para misturarem-se (novamente), cultural, histórica, economicamente. Nesse contexto, surgem trabalhos como os de Angela Schanelec, Christian Petzold, Benjamin Heisenberg, Thomas Arslan, motivados pelo desejo de fazer um cinema que traduzisse, em alguma medida, a complexidade do processo pelo qual passava a Alemanha, e, sobretudo, como os indivíduos enfrentavam e eram afetados por ele. Trazer as marcas da história para o nível da intimidade, do pequeno gesto, da coreografia familiar, alinhou realizadores que, em princípio, talvez não tivessem muito em comum, além de uma educação formal nas principais escolas de cinema do país. Sendo assim, dar espaço para o silêncio, permitir o vazio e respeitar o tempo (real) da ação foram escolhas recorrentes no desenho das narrativas, interessando-nos, particularmente, neste momento, aquelas feitas pelo diretor Christian Petzold nos filmes de longa metragem de ficção Barbara (2012) e Yella (2007). Através de uma análise (não estrita, mas essencialmente) fílmica, pretendemos contemplar a reflexão sobre questões relacionadas, por exemplo, à representação do registro histórico, à mise-en-scène da impotência, à eloquência do silêncio e aos sentidos eventualmente engendrados por alguns elementos presentes em ambas as narrativas, como é o caso da água. Barbara e Yella são filmes profundamente diferentes, a começar pelo tempo histórico neles representados: Barbara remete a Alemanha Oriental dos anos 80, e Yella a um meio do caminho, entre Wittenberge (no Leste) e Hanover (no Oeste), na atualidade. Ademais, pertencem a gêneros cinematográficos distintos, estando Yella mais próximo de um thriller e Barbara de um drama muito bem construído. Para além de notar as semelhanças e diferenças entre as obras, pretendemos, neste artigo, compreender um pouco sobre os mecanismos de representação dos quais tem feito uso o cinema alemão contemporâneo, no que ele tiver de mais realista ou surrealista. De mais silencioso ou eloquente. Ou, quiçá, de alguma outra chave que só a análise e a reflexão poderão, enfim, nos dar. |
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Bibliografia | ABEL, Marco. O cinema de identificação me irrita: entrevista com Christian Petzold. In ZACHARIAS, J. C. Escola de Berlim. 2.ed. Rio de Janeiro: Stamppa: 2013.
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