ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Uma política das imagens: cinema e educação |
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Autor | Cezar Migliorin |
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Resumo Expandido | A partir de experiências em que a produção de filmes e exercícios com o cinema esteve presente em escolas, pretendemos fazer dois movimentos. Um primeiro teórico em que nos interrogamos sobre o papel político do cinema na educação, questionando, fundamentalmente, o que pode o cinema quando chega na escola sem apresentar palavras de ordem ou para formar cineastas. Este primeiro ponto não está distante dos problemas trazidos quando nos interrogamos sobre o que é uma arte política. Um segundo movimento é centrado na análise de práticas com o cinema na escola. Analisando experiências no Brasil e na Inglaterra, apresentaremos casos em que o trabalho com o cinema na educação trouxe pelo menos três consequências no engajamento de estudantes e professores com aspectos centrais da vida em comunidade. 1) a descoberta e a experiência com a imagem 2) conexões e experiências com o território 3) o engajamento da comunidade escolar em uma produção comum desierarquizacão e igualitária, com o cinema.
A arte não se ensina, experimenta-se. Mas o que significa isso se estamos pensando a educação? Não é a educação o lugar em que se ensina? Sim, mas, é também o lugar em que certos objetos do mundo são compartilhados, lugar em que algo se produz com pessoas e saberes; espaço em que pensamentos, modos de ver e pensar adentram um mundo que pertence à professores, alunos, famílias e comunidades. Cada uma dessas formas pode ser recebida pelos estudantes como algo que se encaixa em um universo já dado e constituído, e que atua por acumulação. Nesse sentido, a educação pode ser fechada àquilo que a comunidade já é, reproduzindo seus valores, estéticas e formas de ser. Uma experiência, entretanto, não é algo que está contido no objeto a ser apreendido pelo estudante, nem funciona por acúmulo, mas por deslocamento do conhecido, por desvios nos processos de compreensão de si e da comunidade. No caso do cinema na escola, é pela experiência que o professor pode sair do lugar daquele que ensina para experimentar com os alunos, um deslocamento que se faz essencial para uma dinâmica mais horizontal da produção de conhecimento. Experimentar, nesse caso, é se deixar afetar e produzir com que ainda não conhecemos e que porta o risco de trazer micro-desestabilizações naquilo que entendemos como “nosso mundo.” A experiência, nesse sentido, não pressupõe indivíduos prontos ou sujeitos estáveis antes dela própria, tornando-se, a experiência, o meio e o fim; entregando a autoridade ao processo que incorpora múltiplos sujeitos e máquinas. Nessa linha, nos parece então que, se pensamos o cinema na escola como uma possibilidade de experiência, não se trata de entregar ao aluno algo que ele não possui e que sabemos qual será o efeito da experiência sobre ele, mas permitir que um objeto de arte circule entre estudantes e professores na expectativa de que encontros formais, estéticos e discursivos possam funcionar como aberturas para os sujeitos se engajem em mundo desconhecidos, que recoloquem em marcha processos subjetivos em que formas diversas de estar no mundo, sejam trazidas para si e para a invenção do eu e da comunidade, uma invenção com a diferença. Nossa compreensão é que o cinema na educação é assim inseparável de uma certa experiência estético-político-subjetiva, uma experiência que tentaremos explicitar nas análises que faremos do cotidiano das escolas. |
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Bibliografia | SILVEIRA Barbosa, Carmen; dos SANTOS, Maria Angélica. (Org.) Escritos de alfabetização audiovisual. Porto Alegre: Libretos, 2014.
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