ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Imagens-semblante: sobrevivência e repetição dos discursos imagéticos |
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Autor | Thiago Siqueira Venanzoni |
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Resumo Expandido | O presente artigo pretende o debate sobre a pregnância das imagens nas relações discursivas que a linguagem coloca aos sujeitos. Na perspectiva de Georges Didi-Huberman, em comentário sobre Aby Warburg, a imagem interage com o duplo do tempo: um passado que lhe promulga e um futuro que o espera. A isso Warburg havia conceituado como imagem sobrevivente, ou seja, aquilo que persiste, ou, a imagem que se repete. “Portanto, a graça da imagem provoca, além do presente que ela nos oferece, uma dupla tensão: com respeito ao futuro, pelos desejos que convoca, e com respeito ao passado, pelas sobrevivências que evoca” (HUBERMAN, 2013, p.277). De forma aproximada à sobrevivência de Didi-Huberman e Warburg, Jacques Lacan, como descrito no seminário 18, apresentará aos discursos pregnantes o conceito de semblante, ou a acumulação de significantes que já estão percebidos na linguagem, no inconsciente – em Freud, a repetição, ou, como queiram, o recalque. Diz: “Aqui, o semblante não é semblante de outra coisa, mas deve ser tomado no sentido do genitivo objetivo. Trata-se do semblante como objeto próprio com que se regula a economia do discurso” (LACAN, 2009, p.18, grifo do autor). E continua o psicanalista, recusando certa ideia de subjetividade:
Diremos que se trata também de um genitivo subjetivo? Será que o semblante também concerne àquilo que sustenta o discurso? O termo “subjetivo” deve ser repelido, pela simples razão de que o sujeito só aparece depois de instaurada em algum lugar a ligação dos significantes. Um sujeito só pode ser produto da articulação significante. O sujeito como tal nunca domina essa articulação, de modo algum, mas é propriamente determinada por ela (LACAN, 2009, p.18) Por consequência, não é possível a partir da hipótese que apresentamos atribuir sentido lógico-positivista à percepção do sujeito, subjetividade, em sua relação com a imagem, pois a ela já é designada à sua sobrevivência, como queira Didi-Huberman, ou, já foi alocada pela articulação de significantes, como afirma Lacan. A imagem já está na linguagem, já fez semblante e já tem seu estatuto. A partir dessa relação entre imagem, semblante, sobrevivência e repetição, a tentativa se encontra por esmiuçar conceitualmente o vídeo “Too Many Cooks”, narrativa produzida como quadro irônico do Adult Swin. Nele, significantes-imagem surgem em diversos registros, encontrando seu estatuto, aqui, posto como hipótese conceitual, o que faz recorrer aos discursos-semblante suscitados por essas imagens. O duplo do tempo em Aby Warburg, portanto, se apresenta tanto no estatuto da imagem, como ele diz, quanto na forma, na narrativa, que igualmente se repete: o próprio trauma freudiano. No vídeo, vários enunciados-imagem referidos às séries de TV dos Estados Unidos, vinculados nos anos de 1980, entram em diálogo na narrativa o que, na intenção dos seus criadores, se apresenta como ironia, mas, em nossa hipótese, traduz num para-além dos gêneros e das consciências, conceituando-as em imagens que sobrevivem, aquilo que se torna semblante no âmbito da linguagem. Portanto, com isso, essa apresentação pretende um debate outro sobre a imagem, a partir do discurso imagético, que não discuta sua intencionalidade na perspectiva dos gêneros em que elas são alocadas, ou, os registros, mas sim seu estatuto, sua relação estrutural com a linguagem: o inconsciente, ele mesmo. |
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Bibliografia | BADIOU, Alain. O século. São Paulo: Ideias & Letras, 2007.
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