ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Imagens subversivas: trajetórias de registros de manifestações de rua |
|
Autor | Patricia Furtado Mendes Machado |
|
Resumo Expandido | Olney São Paulo foi o único cineasta preso e torturado no Brasil durante a ditadura militar por conta exclusivamente da realização de um filme. Manhã Cinzenta, de 1969, foi considerado subversivo pela Polícia Política porque, especialmente, exibia registros de manifestações de rua numa visão considerada deturpada pelos censores que avaliaram o conteúdo dos rolos de filmes apreendidos na casa do diretor e no Laboratório Líder, onde foram feitas as revelações. Apesar de ser um filme de ficção, que mostrava cenas ousadas para a época – como a tortura e o fusilamento de dois estudantes-, nas 248 páginas do processo (iniciado em 1970), o que mais chama a atenção da polícia são os registros de “cenas de tumultos”, “choques entre estudantes e policiais”, “correrias” filmados no ano de 1968. Para os censores, tanto o material bruto de Manhã Cinzenta como outros rolos apreendidos junto com ele, apesar de produzidos há 3 anos, eram “pedaços de filmes” potencialmente perigosos, pois “poderiam servir a qualquer finalidade contra o interesse de segurança pública caso fossem enviados para o território nacional ou mesmo outros países”.
A conclusão do processo evidencia a percepção da própria polícia sobre a potência das imagens e a possibilidade de que qualquer um, além das esferas do poder, pudesse tomar a palavra, recusar narrativas já estabelecidas e construir novas histórias a partir dos arquivos cinematográficos. Portanto, essas imagens subversivas deveriam ser apreendidas, tiradas do circuito, banidas. Seu autor, o diretor do filme, deveria ser punido para servir de exemplo a quem mais ousasse "perturbar a ordem pública" com tais registros. Queremos pensar nessas imagens a partir da perspectiva de quem as filmou. Apostamos na proposta da historiadora Sylvie Lindeperg de que as imagens de arquivo “carregam os traços de quem se prepara para o combate, do risco corrido por aquele que filma, da precariedade das situações, de todas as dimensões aleatórias, todos os perigos” (2013, pg.203). A proposta de Lindeperg é a de conhecer o contexto da tomada: a técnica, os jogos políticos, ideológicos e culturais do momento da filmagem. A partir da análise histórica e estética desse material, partiremos da tomada para percorrer os caminhos seguidos por ele. Quem filmou as manifestações de 1968, nas ruas do Rio de Janeiro, usadas em Manhã Cinzenta? Apostando na premissa de Jean Louis-Comolli de que “a força do cinema está em registrar um estado de mundo sem precisar lhe compreender” (2013, 209), nos demandamos sobre o que é registrado sem ser compreendido e o que escapa aos olhos de quem filma. Como enquadrou e o que o que mostrou quem filmou? Com que outras imagens elas dialogam e a que outras se opõem? Teriam esses rolos de filmes sido realmente banidos ou ganharam sobrevida no percurso da história? Se sobreviveram, como resistiram apesar da repressão e do desejo de destruí-los? |
|
Bibliografia | CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
|