ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Formas do entretenimento na constituição de realities musicais |
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Autor | Andrea Limberto Leite |
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Resumo Expandido | Podemos relacionar os variados formatos de programas televisivos dedicados à performance artística, que se concentram hoje principalmente na experiência do canto, a modelos consagrados dentro do gênero do entretenimento. Apresentamos neste trabalho, assim, uma proposta classificatória que pretende também referenciar a maneira como a arte, tomada como objeto nestes programas, é apresentada. Trata-se de um estudo sobre uma produção audiovisual específica, mas que entendemos representar o desafio colocado pela circulação massiva da produção artística, passando do ideal de sua valorização como alta cultura à sua fragmentação em diversos formatos revividos de forma híbrida na concretude da performance oferecida.
Concentramo-nos, assim, em observar as heranças da audição artística, da entrevista profissional e do teatro pretendendo relacionar tais modelos respectivamente a três programas, realities de canto exemplares, televisionados atualmente: Idol, The X Factor, The Voice (considerando as versões nacionais e estrangeiras destes formatos). Nossa perspectiva é primariamente discursiva, enquanto identifica os elementos dos programas que ecoam suas vinculações a tradições imagéticas históricas para a apresentação da arte. Lidamos, dessa forma, não com seu fazer, mas com as maneiras elegidas para seu oferecimento público. Recorremos a um reconstituído cultural funcionando como fundamento para a sustentação de cada um dos modelos apontados. O primeiro deles, a audição artística, remonta à forma de avaliação sobre a performance que valoriza o julgamento sobre a habilidade e o virtuosismo da execução. Baseia-se na exibição do talento para um grupo de especialistas tendo em vista a integrar grupos seletos (orquestras, ballets, etc.), sendo executada em ambientes preparados e dedicados (salões, teatros, museus, etc). Recebe historicamente os ecos de um ambiente nobre e dos especializados circuitos de arte. Este imaginário está na base dos programas de exibição artística em geral, mas mostram-se reforçados especialmente na primeira fase do formato Idol. Na sua apresentação televisiva, fica aparentemente de fora o dado de que a performance é filmada, a expectativa é pelo não existir da câmera. O segundo modelo que reconhecemos é o da entrevista de emprego. Ele revela já a sombra da presença de uma indústria cultural, da arte como uma carreira, da ascensão da atividade do show business e o interesse pela circulação nele. Isso contemplado, o olhar se volta para os aspectos da vendagem de discos, da assinatura de contratos, do visual do candidato direcionado para que seja um ídolo popular. Esse modelo se encontra mais nas últimas temporadas de Idol e em The X Factor. O terceiro modelo tenta fazer um retorno histórico à performance artística e ao virtuosismo, mas estabelece o acontecimento no palco. Ele é performático e montado. Assume a demanda pelo show e ao mesmo tenta manter-se fiel a uma tradição artística, neste momento já híbrida – indicada, por exemplo, como pureza da voz. O staging para a câmera ganha relevância e a presença da gravação como elemento constitutivo é marcada. Esta tentativa é feita pelo The Voice, tratando-se do modelo que mais assume o fato da transmissão e joga com a disposição de palco que é herdeira do teatro. Consideramos, finalmente, como forma de extensão do argumento, alguns seriados e programas televisivos que contemplam a audição de talentos, tendo em vista que, também em novas produções sobrevivem as referências apontadas, como é o caso de Mozart e de The Glee Project. Pontuamos que existe, na base destes programas, o desejo do encontro entre a alta e a baixa cultura, entre descoberta do verdadeiro talento e seu compartilhamento público, entre a verdadeira Arte e a produção massiva. É relevante, ainda, retomar este trabalho entre as tentativas de estabelecer consensos sobre o ambiente da cultura em face de novos processos de midiatização e de difusão. |
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Bibliografia | GANS, Herbert J. Cultura popular alta cultura – uma análise e avaliação do gosto. São Paulo: Edições Sesc, 2014.
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