ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Cinema como escrita de si: presença, performance e afeto |
|
Autor | Susana Amaral |
|
Resumo Expandido | Nos últimos cinco anos, o entrelaçamento entre realidade e ficção, autenticidade e encenação, pessoa e personagem, público e privado, intimidade e visibilidade, vida e performance; vêm contribuindo não só para a (re)construção de um vocabulário crítico do cinema brasileiro mas sobretudo, apontam para a hibridez da encenação contemporânea. A partir da análise da autoficcionalização em Ela Volta na Quinta, de André Novais, e da estetização da memória por meio da re-encenação de acontecimentos em Elena, de Petra Costa, apontaremos para a continuidade de um processo dramatúrgico no qual a realidade não é apenas retratada, mas performada, construída a partir de um modo de fazer cinema que se ancora no presente como ato de intervenção no real. Nesse sentido, nos chama atenção a maneira como esses filmes vêm trabalhando a questão da encenação através de estratégias que parecem visar uma permanente intensificação dos “efeitos de presença” (GUMBRECHT, 2010), conferindo à dramaturgia momentos de intensidade responsáveis por conferir a experiência estética “um componente provocador de instabilidade e desassossego.” (GUMBRECHT. 2010:137).
Ao se lançarem ao “risco do real”, as performances em ambos os filmes produzem presença, em uma política cênica que privilegia a dimensão dos afetos, desafiando as noções de representação e mimese. Por irem além do mero registro representativo, os filmes mencionados não só retratam uma realidade, mas criam uma realidade própria. Filmar então, se torna um gesto afirmativo, uma escrita de sí e do mundo; uma maneira de “desenhar esteticamente” as “figuras de comunidade”, recompondo deste modo a “paisagem do visível: a relação entre o fazer, ser, ver, dizer” (RANCIÈRE, 2005:52). Partimos das teorias de Baruch de Spinoza, Gilles Deleuze, Elena del Rio, Hans-Thies Lehmann e Hans Ulrich Gumbrecht e propomos avaliar a relevância estética da noção de presença que, quando pensada junto ao afeto, contribui para a compreensão da cena contemporânea como espaço híbrido, onde as fronteiras entre realidade e ficção, vida e performance, se encontram cada vez mais vertiginosas. |
|
Bibliografia | BARTHES, Roland. A Câmara clara. Trad. Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
|