ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | De volta para o futuro e Veludo azul: a nostalgia e o estranhamento. |
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Autor | Rogério Ferraraz |
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Resumo Expandido | Este trabalho pretende desenvolver uma análise comparativa entre os filmes “De volta para o futuro” (Back to the Future, EUA, 1985), de Robert Zemeckis, e “Veludo azul” (Blue Velvet, EUA, 1986), de David Lynch. Apesar de pertencerem a gêneros diferentes, o primeiro uma aventura de ficção científica e o segundo um policial que se aproxima do noir e do horror, ambos os filmes, representativos do cinema norte-americano dos anos 1980 e separados por menos de um ano em seus lançamentos, voltam-se aos anos 1950, seja através da viagem ao passado no enredo, no caso da obra de Zemeckis, seja através da presentificação do passado na diegese, como no caso do longa de Lynch.
“De volta para o futuro” conta a história de um rapaz, Marty McFly (Michael J. Fox), que, em 1985, aciona acidentalmente uma máquina do tempo construída por um cientista, Dr. Emmett L. Brown (Christopher Lloyd), em um automóvel DeLorean, retornando 30 anos atrás a sua própria cidade, uma idealizada Hill Valley de 1955. Lá “conhece” a jovem Lorraine Baines (Lea Thompson), sua futura mãe, que fica apaixonada por ele. Tal paixão põe em risco a própria existência de Marty, pois alteraria todo o futuro, forçando-o a servir de cupido entre Lorraine e George McFly(Crispin Glover), seu futuro pai. Já “Veludo azul” apresenta a história de Jeffrey Beaumont (Kyle MacLachlan), um jovem que volta para sua pequena cidade natal, Lumberton, para visitar o pai, que sofreu um derrame. No caminho entre o hospital e a loja da família, o jovem encontra, num terreno baldio, uma orelha humana em fase de decomposição. Jeffrey leva a orelha para o detetive John Willians (George Dickerson), seu antigo vizinho. Ao rever Sandy (Laura Dern), filha de Williams, interessa-se pela moça – e mais ainda pelas informações que ela pode dar sobre o seu achado. Com a ajuda de Sandy, ele resolve investigar o caso por conta própria e acaba indo parar no apartamento da cantora Dorothy Vallens (Isabella Rossellini). Gostando da angelical Sandy, mas também atraído pela volúpia de Dorothy, Jeffrey decide continuar investigando e descobre que Frank Booth (Dennis Hopper), um traficante, viciado em gás hélio, seqüestrou o marido e o filho de Dorohty, provavelmente para forçá-la a manter relações sexuais com ele. A trama centra foco nas descobertas de Jeffrey e em seu envolvimento com as duas diferentes mulheres, até o clímax, em que ele tem que enfrentar Frank. A história é contada como se passasse no mesmo ano em que o filme foi realizado, 1986, mas a ambientação imagética e sonora remete à outra época, os anos 1950/60, causando estranhamento. Ou seja, ambos os filmes trazem certo olhar nostálgico, mas a partir de perspectivas distintas que acabam por provocar sensações e emoções diferentes, até mesmo conflitantes. O curioso é que ambos mencionam a figura de Sandman, o Homem da Areia, através da utilização de canções americanas daquele período em suas respectivas trilhas sonoras: “Mr. Sandman” (The Chordettes, 1954), em “De volta para o futuro”, e “In Dreams” (Roy Orbison, 1963), em “Veludo azul”. Vale lembrar que foi justamente a partir da análise do conto “O homem da areia”, de E.T.A. Hoffmann, que Sigmund Freud (1919) escreveu seu estudo sobre o “estranho familiar”, conceito que deverá nortear parte das análises neste artigo. A hipótese a ser comprovada aqui é que, se é possível aplicar, na análise de “De volta para o futuro”, o conceito de nostalgia, caro a vários teóricos que escreveram sobre a chamada pós-modernidade, em “Veludo azul” o trabalho analítico torna-se mais complexo, tendo em vista as características do cinema limítrofe lynchiano, aproximando-se mais daquilo que Slavoj Zizek chama de “efeito de desrealização” (2009, p. 147), mas também não distante das idéias de supra-realidade e de beleza convulsiva dos surrealistas. |
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Bibliografia | ATKINSON, Michael. Veludo azul. RJ: Rocco, 2002.
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