ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | À escuta do documentário brasileiro: os achados de uma pesquisa |
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Autor | Cristiane da Silveira Lima |
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Resumo Expandido | Propomos fazer um apanhado geral da pesquisa de doutorado "Música em cena - à escuta do documentário brasileiro", desenvolvida no Programa de Pós-graduação da UFMG (a ser defendida em abril de 2015), na qual investigamos de que maneiras os documentários brasileiros inscrevem a música em sua escritura, de modo a engajar a escuta do espectador.
Primeiramente, abordaremos os critérios para a constituição do corpus desta pesquisa, bastante heterogêneo, que inclui filmes de diferentes formatos, estilísticas e contextos sócio-históricos, organizados ao modo de uma pequena constelação (OTTE e VOLPI, 2000). Após uma prospecção inicial que mapeou os chamados "documentários musicais", foram selecionados filmes dissonantes no conjunto, que inventam algo com as músicas ou a partir delas. Muitos desses filmes são pouco conhecidos e foram praticamente ignorados pela crítica de cinema. Em seguida, discorreremos sobre os procedimentos analíticos da pesquisa, que, antes mesmo da composição de um quadro teórico-conceitual, passou logo ao corpo-a-corpo com as obras. De caráter marcadamente exploratório, nosso método dialoga com o conceito de escuta, tal como formulado por Jean-Luc Nancy (2014), Véronique Campan (1999) e Roland Barthes (1990). Adotamos uma forma arriscada de trabalho: ir aos filmes desamparados, isto é, sem anteparos, abertos ao deixar surgir incessante daquilo que os filmes oferecem ao espectador, com o objetivo de entrar em ressonância com as músicas e outros sons que os filmes põem em cena, escutando filmes como quem dança ao sabor de sua escritura sonora. Por fim, empreenderemos um rápido balanço dos achados da pesquisa: as análises demonstram que os filmes apresentam graus variados de afinidade com o fenômeno musical. Esta afinidade pode ser de ordem plástica, de forma ou mesmo de processo. Quando o filme exibe a execução musical propriamente dita, conservando a duração dos planos e certa integridade da cena, certos documentários elevam a música ao primeiro plano e solicitam dos espectadores a escuta da música como objeto sonoro (uma escuta reduzida, para pensarmos nos termos de Schaeffer e Chion). A afinidade plástica se refere, assim, à presença material do corpo sonoro da música na escritura do filme e faz ressaltar que filme e música compartilham elementos comuns, como o tempo, a duração, o ritmo, o movimento. A afinidade de processo refere-se ao modo como certas escrituras se deixam contaminar pela dinâmica da performance ou da criação musical: por exemplo, ao lidar com músicas que se improvisam diante das câmeras, certos filmes se põem – eles próprios – a improvisar. Já a afinidade de forma diz respeito a critérios de ordem mais estrutural ou morfológica: há filmes que inspiram-se em aspectos formais da música. Por exemplo: certos documentários se dividem em blocos, ao modo de uma sonata, por exemplo, valendo-se de procedimentos como a retrogradação, ou a exposição e reexposição de um tema. As análises não esgotam tudo o que os filmes apresentam. O corpus permitiu um diálogo frutífero entre obras de realizadores mais jovens (como Pedro Aspahan e Marília Rocha) e cineastas de maior projeção e filmografia mais extensa (como Leon Hirszman, Júlio Bressane, Eduardo Escorel, Geraldo Sarno, Thomas Farkas, Eduardo Coutinho e João Moreira Salles), mas as questões suscitadas pela pesquisa permitiriam novos reagrupamentos e novos desdobramentos. Cada uma das análises poderia prosseguir ainda, à luz do que os filmes evidenciaram. Seria preciso apenas sugerir novos pontos de contato ou de distanciamento entre as obras, sugerir um novo desenho para a constelação. Existe aí um campo vasto e instigante de pesquisa sobre a música (e o som, em geral) na escritura do documentário, ainda por se fazer. |
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Bibliografia | BARTHES, R. O óbvio e o obtuso: ensaios críticos III. Tradução de Léa Novaes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
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