ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Reflexividade e endereçamento nos documentários ciberaudiovisuais |
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Autor | Bráulio de Britto Neves |
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Resumo Expandido | A presente argumentação pertence a um esforço transdisciplinar de reconstrução dos eventos de mobilização cívica realizados através de comunicações eletrônicas distribuídas, realizada com o propósito de desenvolver ferramentas de crítica capazes de elucidar a dimensão ético-comunicativa do uso de máquinas semióticas na vida política das sociedades contemporâneas. A nosso parecer, há uma inadequação da base ontológica das teorias sobre ação e representação políticas hoje prevalencentes, apoiadas na generalização de pressupostos e procedimentos da filosofia analítica da linguagem verbal, diante das dimensões políticas da /agência das coisas/, principalmente no que toca aos novos desafios ao projeto moderno de autonomia democrática (Dahl) trazidos pelo uso generalizado de artefatos de comunicação e expressão.
A contribuição dos estudos de cinema para esta discussão se justifica pela circunstância de que, na história contemporânea, há poucos fenômenos culturais comparáveis ao audiovisual documentário, em termos da relevância política da "dimensão técnica" dos meios de produção, circulação e apreciação. A agência retórico-política dos artefatos, no cinema documentário, chega a constituir o cerne da sua definição como prática comunicativa. Ao tomar categorias e operadores analíticos provenientes das teorias sobre o cinema documentário para elucidar as implicações da sua atual concreção ciberaudiovisual para a democracia, esperamos desenvolver conceitos e procedimentos metodológicos empregáveis para a crítica ético-política de outros arranjos artefatuais relevantes à retórica democráticia, ou seja, aqueles que vêm emergindo como constituintes dos ambientes de interação da vida política atual. O desafio é produzir ferramentas de reconstrução crítica dos meios de ação e representação políticas, nas circunstâncias de uma "mudança topológica na esfera pública": os mass-media deixam de ter precedência política sobre as redes distribuídas de comunicação entre pares (Galloway & Thacker, Benkler), mas as condições concretas da mediação dessa translação pelo capital semanticorporativo e pelo poder biopolítico arriscam conduzir o "duplo fluxo" da comunicação política (do cotidiano à esfera pública; e do sistema político formal ao direito, Habermas 1997) à uma dupla estagnação: uma foraclusão da política (Dean) na conversação cotidiana; de outro, a denegação da política no sistema institucional endógeno e autoreferente (Mair). A democracia, enquanto argumentação, é extremamente dependente de arranjos de artefatos para a consecução prática de seus três princípios definidores (isegoria, isonomia, isopsefia). Partindo dessa formulação, propomos a interpretação do cinema documentário como artefato retórico de ação e representação políticas, de modo tornar a análise audiovisual capaz de elucidar duas dimensões da mediatização da política na contemporaneidade. Para abordar (a) a representação documentária enquanto representação política, propomos definir as posições actanciais* da expressão cinematográfica (diante da objetiva, detrás da ocular, defronte a tela), em correspondência com as teorias de representação política (Pitkin, Saward, Rehfeld), operacionalizando essa posições através da identificação empírica das funções dramatúrgicas (Souriau) que desempenham nas situações de enunciação documentária (da captação à interpretação na conversação política on-line). Para empreender (b) uma crítica reconstrutiva capaz de arrimar uma avaliação de accountability (Montanaro, Rubenstein) dos artefatos enquanto representantes políticos, propomos - abordagem dos "campos éticos" (Ramos) do documentário em correspondência aos modelos normativos republicano, liberal e deliberacionista (Habermas). Neste caso, a operacionalização dos conceitos se faz via estudos da distribuição social, perceptibilidade e operacionalidade das affordances comunicativos dos cibertextos (Aarseth) audiovisuais. |
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Bibliografia | AARSETH, E J (1997) Cybertext
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