ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A trajetória de Luiz Rosemberg Filho |
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Autor | Renato Pannacci |
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Resumo Expandido | O cineasta, artista plástico e ensaísta Luiz Rosemberg Filho nasceu no Rio de Janeiro, em 1943. Autor de uma vasta filmografia que soma mais de sessenta títulos, entre curtas, médias e longas-metragens, começou a trabalhar em meados dos anos 1960 e continua ativo até os dias de hoje. Além de cineasta, Rosemberg é autor de um considerável número de colagens, que dialogam intrinsicamente com seus filmes, constituindo um universo único de sua obra e pensamento. Soma-se a isso uma prolífica atividade como ensaísta, escrevendo sobre cinema para diversos jornais e revistas, sobretudo da chamada imprensa nanica, já há várias décadas.
Realizador geralmente ligado ao cinema experimental produzido no Brasil, Rosemberg sempre manteve uma postura independente, nunca se filiando a grupos – Cinema Novo ou Cinema Marginal –, mesmo que constantemente associado ao segundo período. Sua filmografia inclui longas-metragens importantes no panorama do cinema brasileiro dos anos 1960/1970, filmes radicais e viscerais, muitas vezes interditados pela censura do regime militar e raramente exibidos no circuito comercial. Rosemberg inicia sua carreira cinematográfica em 1968, realizando Balada da página 3. Com Mário Carneiro como diretor de fotografia e argumento de Ruy Guerra, o longa é hoje considerado perdido. Em 1970, roda seu segundo longa, O Jardim das Espumas, filme geralmente associado ao período do Cinema Marginal. Embora interditado pela censura federal, que proíbe sua exibição comercial, o filme tem boa repercussão crítica na época, e fica marcado como um dos principais títulos do cinema de cunho mais radical realizado no Brasil naquele período. Em 1972, realiza Imagens, média-metragem silencioso, rodado em 16mm. O filme venceu o prêmio da crítica no Festival de Cinema de Toulon, em 1973. Em 1976 realiza A$suntina das Amérikas, seu primeiro filme colorido, rodado em 16mm, novamente produzido de forma independente. Filme radical e de viés antropofágico, A$suntina “é um filme explosivo, um anti-musical sobre as influências de Hollywood na realidade brasileira”, como definiu o crítico Jairo Ferreira. Seu longa-metragem seguinte, o contundente Crônica de um industrial (1978), filme pelo qual talvez o autor seja mais lembrado, difere-se de sua produção anterior. Com tom mais sério, Rosemberg se distância da estética do Cinema Marginal, realizando um trabalho de mais maturidade. Seu último longa de produção “convencional” é O santo e a vedete, de 1982. Trata-se de uma comédia erótica, uma tentativa de satirizar a pornochanchada brasileira. Após a realização do longa, Rosemberg passa para a produção de filmes em vídeo, quase sempre realizando curtas ou médias-metragens, em busca da liberdade criativa e estética propiciada pelo menor custo de produção. Seus primeiros vídeos são os médias Alice (1983) e Videotrip (1984). Ambos conservam características de filmes de ficção, mas nos quais o autor já procura explorar a estética do vídeo, com certo teor ensaístico. Pode-se aferir que, de fato, a partir do início dos anos 1990, o autor se aprofunda nas especificidades da linguagem do vídeo, criando uma obra de vertente ensaística, em forma de “videocolagem”, que perdura até os dias de hoje. Atributos da obra de Rosemberg são a radicalidade e visceralidade estética, a transfiguração e subversão de signos (o que Jairo Ferreira designaria como “invenção”: “Rô chupa e transfigura o que o influencia, atingindo a originalidade”), a busca pela poesia, o trabalho com o texto – que muitas vezes por si só já possui considerável valor poético –, sempre imbuído de certo escopo “totalizante”, como designou Glauber Rocha. Totalizante no sentido de ser um cinema que se vale de outras artes, seja na utilização, citações ou alusões, que abarcam a fotografia, pintura, música, teatro, poesia, a literatura e filosofia. No ano de 2014, Rosemberg finalmente volta ao formato de longa-metragem de ficção, após um hiato de 32 anos, com o filme Dois Casamentos. |
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Bibliografia | COELHO, Renato (org.). Mostra Jairo Ferreira: Cinema de Invenção. São Paulo: CCBB, 2012.
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