ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Uma análise do prólogo de Persona: horror atemporal |
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Autor | Pedro Max Schwarz |
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Resumo Expandido | Este estudo pretende analisar o prólogo do filme Persona (1966, Suécia), de Ingmar Bergman. Considerações sobre as planificação e montagem das imagens, ao lado de elementos da trilha sonora serão feitas.
O prólogo é dividido em três partes. A primeira tem início com imagens de um projetor e da película passando por dentro dele. A partir desse projetor surgem cenas sombrias/assombrosas/repugnantes: uma tarântula, um vampiro, imagens documentais de um animal sendo estripado, uma mão sendo atravessada por um prego etc. Uma música sombria que faz lembrar um filme de horror acompanha as imagens. Essa música levanta alguns questionamentos que serão desenvolvidos ao longo dessa comunicação, a partir do texto God is a disc jockey, em que Chion define três categorias para o uso da música no cinema: a) empática, que participa diretamente da emoção da cena, movendo-se em simpatia com essa emoção, amplificando-a (uma cena de morte acompanhada de uma música melancólica); b) anempática é a música diegética que destoa da emoção da cena e, justamente por isso, a acentua, como se representasse a indiferença do Universo em relação ao sofrimento humano (um rock animado tocando num rádio durante uma cena de estupro); c) fala-se em 'contraponto didático' à música usada para expressar uma ideia, e não uma emoção (como a Ave Maria no filme de Godard Je vous salue Marie). Essas categorias são limitadas, e nem sempre é possível encontrar, num filme, um encaixe perfeito para elas. Sabe-se que toda categorização é limitante, mas tem uma função didática, e é nesse sentido que buscaremos aplicá-la. As imagens também levantam uma série de questões. Por que a presença de imagens da película e do projetor? Para Susan Sontag, (SONTAG, p. 136) Bergman queria fazer um comentário sobre a materialidade do filme e a capacidade da película de registrar emoções intensas (como as que serão vividas pelas duas protagonistas do filme, após o prólogo). Será possível seguir refletindo sobre a presença sucessiva de imagens sombrias, já que a segunda parte do prólogo se passa num hospital/necrotério. Existem ruídos de água pingando, de sinos, mas na maior parte do tempo, não há música. Neste local, um garoto está deitado numa cama. A sua atenção parece ser atraída por alguma coisa, passa a acariciar uma tela com imagens desfocadas de rostos femininos que se alternam. Depois do clímax gerado também pelos sons é que começa a terceira parte do prólogo. Este momento corresponde aos créditos de abertura, que aparecem em meio a uma montagem bastante complexa de imagens, com a presença da música. Esta montagem alterna planos que contém os créditos de abertura, em letra preta sobre fundo branco, com planos muito rápidos de imagens que remetem tanto ao prólogo como a acontecimentos futuros: o garoto do hospital/necrotério; o rosto da atriz Liv Ullmann - que fará o papel de uma das protagonistas; o mar; o vídeo (que se tornou mundialmente famoso) do monge vietnamita se auto-imolando, e outras de igual efeito perturbador. O efeito da montagem sobre o espectador é desconcertante, e a música consegue reforçar este desconcerto, como veremos em nossa análise. Depois disso é que tem início a “história” propriamente dita. A leitura detalhada do prólogo, com base na bibliografia apontada, pretende portanto apontar e discutir pistas que ajudarão na compreensão do filme em sua totalidade e do estilo bergmaniano presente em Persona. |
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Bibliografia | CARROLL, Noel. A filosofia do horror ou Paradoxos do coração. Campinas, SP: Papirus, 1999.
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