ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Geografias sonoras e ponto de escuta: uma coisa de cinema e educação |
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Autor | Glauber Resende Domingues |
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Resumo Expandido | Geografia, etimologicamente falando, é a descrição da terra ou da relação dos homens com ela. Assim, alguns conceitos aparecem como decorrentes dessa relação. A noção de paisagem, território, de espaço, dentre outras, vêm para tentar descrever parte desta relação. O que seria então uma geografia sonora? Tenho pensado na geografia sonora como a descrição de um dado espaço e/ou território a partir das informações sonoras que este dá para os sujeitos que nele vivem ou que com ele se relacionam. Dos conceitos listados, os três se aproximam com o cinema. O que tenho pensado é, em que medida, a noção de território, de paisagem e de espaço podem ajudar quando se pretende pensar uma geografia sonora da imagem fílmica.
Raymond Schafer, compositor canadense, criador do conceito de paisagem sonora, tem servido de base para subsidiar minhas questões acerca de uma descrição sonora da imagem cinematográfica. Para ele, “a paisagem sonora é qualquer campo de estudo acústico. Podemos referirmo-nos a uma composição musical, a um programa de rádio ou a um ambiente acústico como paisagens sonoras” (SCHAFER, 2001, p. 23). A imagem cinematográfica como é hoje é também um ambiente acústico e que revela traços característicos da paisagem a qual se filma. Deste modo se filmarmos uma floresta, a imagem fornece uma paisagem sonora, enquanto que, se filmarmos uma larga avenida no centro de uma grande cidade, a paisagem sonora será de outra ordem. A ideia de geografia sonora e da paisagem sonora, mais especificamente, tem uma relação bem próxima com a noção de ponto de escuta, conceito este criado por Michel Chion (2011) e desenvolvido por outros autores como, por exemplo, Ángel Rodríguez (2006). Segundo Chion (op. Cit.), o ponto de escuta tem duas acepções: uma espacial, de onde o espectador vê a imagem e escuta o som; e outra subjetiva, onde a personagem escuta os sons que também são escutados pelo espectador. O autor acha o primeiro um tanto complicado e ambíguo por conta da capacidade do som caminhar por diferentes direções. Enquanto Rodríguez (op. Cit.) aposta num ponto de escuta espacial mesmo, pois para ele, “quando um ouvinte escuta uma paisagem sonora da realidade referencial, está ouvindo sempre de um lugar concreto, de um ponto específico do espaço” (RODRÍGUEZ, 2006, p. 311). Quando que uma geografia sonora e a noção do ponto de escuta no cinema tornam-se também uma coisa de educação? Uma resposta de pronto seria que, estes conceitos e estas percepções são aprendidos. Mas se aprendidas, aprendidas como? Em recente pesquisa observei como estudantes de educação básica se relacionam com sons do cinema e como constroem um ponto de escuta na relação com os sons (RESENDE, 2013). O que observei é que os estudantes, ao lançar mão de uma escuta que primava pela memória e pela imaginação, buscavam estabelecer uma relação com os sons procurando saber sua proveniência. Assim, estabeleciam uma relação do espaço mostrado com o espaço que lhes era comum, estabelecendo uma ponte entre o conhecido e o desconhecido. O modo como eles aprendiam a geografia sonora das cenas manifestava uma postura crítica e criativa, observando que soluções o diretor do filme em questão usou para obter tais resultados. Tal postura, evidencia um movimento de um espectador emancipado que não mais deglute a imagem e o som. Assim, se manifesta “o poder que cada um (...) tem de traduzir à sua maneira o que percebe, de relacionar isso com a aventura intelectual singular que o torna semelhante a qualquer outro, à medida que essa aventura não se assemelha à nenhuma outra” (RANCIÈRE, 2012, p. 20). Com o pensamento de que o cinema é uma aventura intelectual onde na qual tempo e espaço, som e imagem, diretor e espectador se influenciam mutuamente, penso que a geografia sonora e o ponto de escuta são ideias cruciais para pensar como um espectador aprende a se relacionar com um filme. |
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Bibliografia | CHION, Michel. A audiovisão: som e imagem no cinema. Trad. Pedro Elói Duarte. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2011.
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